Petrolão
Lobista que negocia delação indica que entregará a cúpula do PMDB
Fernando Baiano citou Renan, Cunha e Henrique Alves nas tratativas com o Ministério Público
Termos da delação devem ser assinados na próxima semana; tempo de prisão é o principal entrave
Apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras, o lobista Fernando Soares, o Baiano, disse a integrantes do Ministério Público Federal que pode entregar informações sobre suposta participação de três figuras de peso do partido e de um petista nos desvios de recursos da estatal.
A Folha apurou que ele citou os nomes dos peemedebistas Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, do ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (RN), do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ) e do senador petista Delcídio do Amaral (MS).
O lobista também adiantou que pode dar mais elementos sobre o papel de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras, no esquema. Embora não tenha detalhado a atuação dos políticos ou de Cerveró, Baiano adiantou que pode contribuir com informações novas.
Essa é a condição imposta pelos investigadores para fechar o acordo, que garantiria ao lobista penas atenuadas.
As conversas com Baiano começaram há cerca de um mês, em Curitiba, onde o lobista está preso numa cela da Superintendência da PF desde novembro. Na última semana, ele teve dois encontros com os procuradores.
Apesar de não ter assinado os termos da delação, o que deve ser feito na próxima semana, o acordo está praticamente fechado, segundo fontes ligadas à Polícia Federal e à defesa do lobista.
Os maiores entraves aconteceram devido ao tempo de prisão. A defesa queria que, com a colaboração, Baiano saísse imediatamente da cadeia, mas a Procuradoria não cedeu. O mais provável é que ele saia apenas em novembro.
Baiano também tentou negociar morar fora do Brasil, já que sua mulher tem cidadania americana. O argumento do operador era que gostaria de reconstruir a vida no exterior com a família. O Ministério Público vetou o pedido.
ALVOS
Cunha, Renan e Cerveró já são alvos da Lava Jato. Cunha foi denunciado ao STF (Supremo Tribunal Federal) na última semana, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Cerveró foi condenado pelos mesmos crimes. Renan é alvo de inquérito no STF.
Procurados, Renan e Henrique Alves informaram que não iriam se pronunciar. O advogado de Cunha não retornou os contatos da reportagem. A assessoria do PMBD disse que jamais autorizou alguém a se apresentar como operador da legenda.
Delcidio Amaral disse que conhece Baiano da época em que foi diretor da Petrobras, nos anos 90, mas que não teve mais contato com ele. Questionado sobre a possibilidade de ser citado na delação do lobista, o senador afirmou que "desconhece esse assunto".
Já Edson Ribeiro, advogado de Nestor Cerveró, disse que informações colhidas em delações de suspeitos presos não têm credibilidade. Para ele, eles sofrem terror psicológico e só aceitam falar para se verem livres da carceragem.
Questionado sobre a possibilidade de Cerveró se tornar delator, Ribeiro disse que "não haverá delação premiada".
Segundo a Folha apurou, no entanto, a defesa de Cerveró preparou um material volumoso, com 25 anexos, e até o filho do ex-diretor vem acompanhando as reuniões com a Procuradoria. Mesmo assim, as conversas não evoluem, já que os procuradores consideram insuficiente o que ele vem relatando.
O executivo comoveu os companheiros da carceragem ao passar a madrugada desta quinta (27) chorando ao receber a notícia de que sua negociação não estava indo bem. Cerveró tem assistência semanal de um psiquiatra.