Lula avisa que não está 'morto' e que voltará a 'voar'
Um dia após cogitar a possibilidade de se candidatar de novo, ex-presidente diz querer 'incomodar' adversários
Acuado pela crise e investigado por suspeita de tráfico de influência, petista afirma que 'não se cria líderes como pão'
Acuado pela crise que dragou seu partido e investigado por suspeitas de tráfico de influência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste sábado (29) que reagirá contra adversários que dizem que ele "está morto".
"Só se mata pássaro que está parado no galho. Então, é o seguinte: voltei a voar", disse Lula, um dia depois de cogitar a possibilidade de se candidatar novamente à Presidência nas próximas eleições.
O ex-presidente afirmou que tem "as costas largas" e que vai trabalhar para que os adversários passem a se "incomodar" com ele e deem um "pouco de sossego" à sua sucessora e afilhada política, a presidente Dilma Rousseff.
Discursando ao lado do ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica num evento promovido pela Prefeitura de São Bernardo do Campo (SP), berço do PT, o ex-presidente disse que decidiu falar mais agora, porque "não se cria líderes como você faz pão".
O petista afirmou que sua sigla é vítima de uma tentativa de "criminalização" e que não entende o "ódio, a raiva irracional" contra o PT. "Pode ser que tenham razão em algumas críticas, mas de onde vem esse ódio?", indagou.
Em julho, a Procuradoria-Geral da República no Distrito Federal abriu investigação para apurar suspeitas de que Lula usou sua influência para favorecer obras da empreiteira Odebrecht no exterior.
A empresa, uma das que patrocinaram palestras de Lula depois que ele deixou o governo, também é investigada por suspeita de envolvimento com o esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato na Petrobras.
Telegramas diplomáticos divulgados pela revista "Época" na edição que começou a circular neste sábado (29) mostram que, em maio de 2011, poucos depois de deixar o governo, Lula defendeu interesses da Odebrecht numa visita a Cuba, onde a empresa constrói o Porto de Mariel.
Em seu discurso no sábado, o ex-presidente voltou a atribuir a rejeição ao PT a uma insatisfação das "elites" com os avanços sociais promovidos pelo partido desde sua chegada ao poder, em 2003.
"Essas pessoas estão indo para a rua para desfazer as coisas que nós fizemos", disse. "Preferem levar o cachorro para fazer cocô do que ver uma mulher pobre passeando com o filho no parque."
Lula foi um dos alvos principais das manifestações organizadas em agosto por grupos que defendem o impeachment de Dilma. Eles chegaram a levar às ruas um boneco inflável de 15 metros de altura para representar Lula vestido como presidiário.
'IMPRESCINDÍVEL'
Amigo do petista, Mujica acabou fazendo um contraponto incômodo à fala de Lula. O ex-presidente uruguaio, que discursou antes, disse que líderes como eles precisam aprender a respeitar "os que pensam diferente".
"Quanto mais duro é o confronto entre as classes sociais, mais difícil é a recuperação", disse Mujica, ao lado de Lula. "Não se brinca com fogo."
Mujica iniciou seu curto discurso dizendo que "não há homens imprescindíveis, há causas imprescindíveis". Criticando os que que agem como "reis" após a eleição, alertou que "a república não deve adoecer de monarquia".
O uruguaio afirmou que muitas vezes os partidos políticos "adoecem" após chegar ao poder. "Não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar a nós mesmos. Se começamos a mudar, sobretudo os que estão nos partidos, se entende que num partido não se ganha dinheiro, não se deve enriquecer."