Chefe da Eletronuclear é acusado de corrupção
Homem-forte do programa nuclear dos anos 1970 e 80 recebeu propina, diz denúncia
Presidente licenciado da Eletronuclear, o almirante da reserva Othon Luiz Pinheiro da Silva foi acusado formalmente por 53 atos de corrupção em benefício de empreiteiras com contratos da usina nuclear de Angra 3.
Homem-forte do programa nuclear brasileiro dos anos 1970 e 1980, Othon assumiu a presidência da estatal em 2005 para retomar a obra da usina durante o governo do ex-presidente Lula. Licenciado da estatal este ano, o almirante está preso desde julho.
As obras civis da terceira planta nuclear do país foram iniciadas em 1984 e ficaram paradas por 25 anos.
Reiniciada em 2009 com previsão de R$ 7 bilhões, Angra 3 deverá entrar em operação em 2018, com três anos de atraso, a um custo de R$ 15 bilhões.
A denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal lista apenas contratos da Andrade Gutierrez e da Engevix, que somam R$ 5 bilhões.
A propina atribuída ao chefe da Eletronuclear foi estimada em R$ 4 milhões.
Quinze pessoas foram denunciadas –incluindo uma filha do almirante e a cúpula das duas empreiteiras– sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e de integrar organização criminosa.
Para a Procuradoria, Angra 3 mimetizou esquemas já desvendados dentro da Petrobras: empreiteiras fatiavam obras e obtinham contratos e aditivos mediante o pagamento de propina.
No caso da Andrade Gutierrez, a Procuradoria afirma que a Eletronuclear pagou até por alojamentos vazios durante as duas décadas em que a obra esteve interrompida.
Outras cinco empreiteiras que integram, com a Andrade Gutierrez, o consórcio que toca a montagem eletromecânica da usina (R$ 3,2 bilhões), sob suspeita, não foram incluídas na denúncia.
Já a Engevix venceu licitações mesmo com preço maior.
Em troca dos favores na Eletronuclear, sustenta a acusação, as duas construtoras contrataram empresas de fachada cuja única função era repassar dinheiro para a Aratec, firma de Othon.
OUTRO LADO
O advogado de Othon, Helton Pinto, não foi encontrado pela reportagem.
À PF, o almirante negou ter recebido propina e afirmou possuir conhecimento para "ganhar muito mais" do que os valores que lhe acusam de ter recebido ilicitamente.
A Andrade Gutierrez informou que seus advogados só se pronunciarão nos autos do processo. Por meio de nota, a Engevix disse que coopera com a investigação.