'Não tenho o que dedurar', diz Marcelo Odebrecht à CPI
Presidente afastado da maior empreiteira do país sinalizou não estar disposto a firmar colaboração
À frente de uma das empresas que mais doaram nas eleições de 2014, ele recebeu até elogios dos deputados
O presidente afastado da empreiteira Odebrecht, Marcelo Odebrecht, afirmou nesta terça-feira (1º) à CPI da Petrobras não ter "o que dedurar", sinalizando que não pretende firmar um acordo de colaboração com os investigadores da Operação Lava Jato.
"Para alguém dedurar, precisa ter o que dedurar. Esse é o primeiro fato. Isso eu acho que não ocorre aqui", disse.
O executivo da maior empreiteira do país está preso desde junho sob acusação de integrar o esquema de corrupção na Petrobras. Tratado de forma elogiosa pelos parlamentares, ele disse que a Lava Jato "está gerando desgaste desnecessário" para a Petrobras e empresas nacionais.
O grupo Odebrecht doou R$ 918 mil aos membros da CPI nas eleições de 2014. Foram dez os parlamentares beneficiados, entre os 54 integrantes da comissão (incluindo suplentes). O presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), foi um dos que mais receberam. Ele obteve R$ 200 mil da Construtora Norberto Odebrecht.
Questionado nesta terça pelo deputado Bruno Covas (PSDB-SP) se conversou sobre a relação entre a Odebrecht e a Petrobras em encontros com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Lula, Marcelo afirmou: "É provável e mais do que natural", ressaltando que foram conversas "republicanas".
Marcelo Odebrecht recebeu até elogios durante a sessão. Ao chegar, ele cumprimentou todos os deputados presentes e disse que não comentaria detalhes das acusações contra ele para não prejudicar as estratégias da defesa.
O relator da comissão, Luiz Sérgio (PT-RJ), chamou-o de "jovem executivo de uma das mais importantes empresas brasileiras" e defendeu que "pela importância da empresa para o desenvolvimento e as obras e empregos que geram no país, o instrumento de [acordo de] leniência seja preservado para que ela possa se manter".
Em seguida, Altineu Côrtes (PR-RJ), que costuma ser incisivo em suas perguntas, afirmou que uma vez conversou com funcionários da empreiteira que o elogiaram. "Descreveram o senhor com um orgulho assim que me marcou", afirmou.
Ao responder ao deputado Bruno Covas (PSDB-SP), Marcelo Odebrecht pediu desculpas por não dar detalhes sobre um ponto de sua defesa. Recebeu a compreensão do parlamentar: "Não precisa pedir desculpa, é um direito, não tem o que desculpar".
Questionado sobre a atual imagem da Odebrecht vinculada à corrupção, Marcelo chamou-a de "fenômeno da publicidade opressiva" e disse contar com os deputados para reverter essa concepção.
A CPI também esteve com outros quatro ex-executivos da Odebrecht: Márcio Faria, Rogério Araújo, César Ramos e Alexandrino Alencar. Todos ficaram calados.