Políticos são denunciados na Lava Jato
Procuradoria aponta que deputados Aníbal Gomes e Arthur Lira e senador Benedito de Lira estavam no esquema
Justiça irá decidir se parlamentares, aliados de Cunha e Renan, devem responder por corrupção e lavagem
A Procuradoria-Geral da República apresentou nesta sexta (4) denúncias contra o deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE), o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) e o senador Benedito de Lira (PP-AL), seu pai, por envolvimento no esquema de corrupção investigado na Lava Jato.
Aníbal é aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) –ambos são alvo de um inquérito.
Já Arthur Lira é presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Câmara), a mais importante da Casa, e aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) –que também já foi denunciado pela Procuradoria.
A Justiça agora irá decidir se acata ou não a denúncia. Se acatar, o processo é aberto, e eles viram réus.
Um relatório da Polícia Federal apontou indícios de responsabilidade criminal de Arthur e seu pai –o equivalente, na primeira instância, a um indiciamento.
A Procuradoria agora os denunciou formalmente ao Supremo Tribunal Federal pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O relatório da PF havia apontado que os dois acusados tiveram dívidas de campanhas eleitorais pagas pelo doleiro Alberto Youssef e receberam propinas por meio de doações eleitorais oficiais resultantes do esquema de corrupção na estatal.
Imagens de câmeras de segurança de um dos escritórios de Youssef já haviam mostrado visitas de Arthur Lira.
Em outra denúncia, apresentada nesta sexta contra o dono da UTC, Ricardo Pessoa, a Procuradoria revela detalhes da delação premiada do empreiteiro que cita os políticos.
Pessoa conta que Arthur Lira lhe telefonou e foi ao seu escritório em São Paulo pedir doações "de maneira bastante incisiva". Ao pedir R$ 1 milhão, segundo Pessoa, o deputado lhe disse: "Você está trabalhando na Petrobras e, para continuar assim, deverá continuar colaborando".
Em outro depoimento, o dono da UTC diz que Youssef marcou uma reunião na qual estava presente o senador Benedito de Lira. "Após Benedito de Lira pedir o dinheiro para campanha, Alberto Youssef disse, na frente de Benedito de Lira: 'Você pode pagar a ele e descontar de mim'", relatou Pessoa. Em seu entendimento, isto significou que Youssef permitiu que a doação fosse descontada dos acertos de propina referentes às obras na Petrobras.
CONFISSÃO
O deputado Aníbal Gomes virou alvo de uma ação em separado por ter, segundo a Procuradoria, confessado um crime eleitoral no depoimento prestado aos investigadores.
Isso porque Aníbal declarou à Justiça Eleitoral que doou R$ 207,4 mil de seu próprio bolso à sua campanha de deputado em 2014, porém, questionado sobre o fato de guardar valores em espécie, ele revelou que pelo menos a metade da verba veio de amigos e parentes.
No depoimento, Aníbal disse que, como os valores eram "pequenos", pediu que as pessoas lhe entregassem diretamente, em vez de doarem para a conta da campanha.
A Procuradoria continua investigando a relação entre Aníbal, Renan e o esquema na Petrobras em um outro inquérito. A suspeita é que Aníbal tenha atuado como intermediário de Renan no recebimento de propina.