Cunha faz ato para receber pedido de impeachment
Presidente da Câmara abre gabinete para oposição e dissidentes da base
Pedido sustenta que petista cometeu crime de responsabilidade e cita corrupção na Petrobras e pedaladas
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu nesta quinta-feira (17) um novo texto do principal pedido de impeachment contra Dilma Rousseff.
Com a presença de dissidentes da base governista, dos principais líderes das bancadas de oposição e de líderes de movimentos de rua pró-impeachment, a entrega do documento pelo jurista Miguel Reale Jr. e por uma filha do fundador do PT Hélio Bicudo, que representou o pai, foi seguida por discursos contra Dilma e o governo.
Adversário declarado do Planalto, Cunha abriu seu gabinete para o recebimento do texto. A imprensa foi liberada para acompanhar o ato. Todos os outros pedidos de impeachment –inclusive o original de Bicudo, que foi devolvido para correções formais– foram protocolados apenas nos departamentos técnicos da Câmara.
"Lutamos contra a ditadura dos fuzis, agora lutamos contra a ditadura da propina", discursou Reale Jr. logo após passar às mãos de Cunha o aditamento. O advogado defende que irregularidades cometidas em mandato anterior são passíveis de serem usadas para questionar o atual mandato de Dilma.
O jurista vinha elaborando parecer para embasar um pedido de impeachment encabeçado pelo PSDB de Aécio Neves. A oposição, porém, decidiu encampar o pedido de Bicudo. Em sua fala, a filha do ex-petista, Maria Lúcia Bicudo, cobrou ética e coerência. "Basta de mentiras."
Também estiveram no ato na presidência da Câmara líderes do Vem pra Rua (Rogério Chequer), do Movimento Brasil Livre (Fernando Holiday) e NasRuas (Carla Zambelli). Em suas falas, eles cobraram pressa de Cunha na análise do pedido.
O pedido assinado por Bicudo e Reale sustenta que Dilma cometeu crime de responsabilidade fiscal. Cita o escândalo de corrupção na Petrobras e as chamadas "pedaladas fiscais", manobras do governo para adiar pagamentos e usar bancos públicos para cobrir as dívidas.
FUNÇÃO INSTITUCIONAL
Cunha fez um discurso protocolar, de que cumprirá sua função institucional. Ele procurou não demonstrar reação aos fortes discursos anti-PT e anti-Dilma.
Além do Solidariedade, o ato foi encorpado pelo líder da bancada tucana, Carlos Sampaio (SP), e pelo líder da oposição na Casa, Bruno Araújo (PE), pelo DEM e por dissidentes do PMDB –os deputados Jarbas Vasconcelos (PE), Lúcio Vieira Lima (BA) e Darcísio Perondi (RS).
Cabe a Cunha decidir se dá ou não sequência aos pedidos de impeachment protocolados na Casa. Pela discussão de bastidores que mantém com a oposição, ele indica que rejeitará todos, abrindo caminho para que a oposição faça um recurso ao plenário da Câmara.
Caso a maioria dos presentes à sessão seja favorável ao pedido, ele segue para análise de uma comissão especial, que emitirá parecer ao plenário. Dilma é afastada se pelo menos 342 dos 513 deputados entenderem que há elementos para abertura do processo de impedimento.