Em recado ao Planalto, partidos rompem com Picciani
Deputado é líder do maior bloco partidário da Câmara, que soma 149 parlamentares e deverá ser desfeito até o fim desta semana
Os deputados que integram o maior bloco partidário da Câmara decidiram se desvincular do PMDB para atingir o líder da sigla, Leonardo Piccinani (RJ). O movimento foi arquitetado para fragilizar o nome que o Palácio do Planalto escolheu como sua principal ponte com peemedebistas e integrantes de outras siglas da base.
Até então, Picciani era líder do PMDB e do chamado "bloco da maioria", que conta com seu partido e outras cinco legendas: PP, PTB, PHS, PSC e PEN. Nesta terça-feira (6), líderes do PP, PTB, PHS e PSC bateram o martelo e decidiram formar outro bloco, isolando o PMDB de Picciani. O PEN, que tem dois deputados, deve permanecer com o peemedebista. A manobra deve ser formalizada até o fim desta semana.
Procurado, o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), tratou o assunto com cautela. Segundo ele, não há "mal-estar" com o peemedebista. "Talvez a separação do bloco em dois facilite a atuação e o posicionamento em plenário", disse.
"A nossa intenção é fazer com que as bancadas se sintam bem para se posicionar. Ainda estamos discutindo a melhor forma de fazer isso."
Em privado, líderes das siglas que romperam com Picciani dizem que o peemedebista os deixou de fora das discussões sobre a reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff promoveu na última semana.
Juntos, os seis partidos somavam 149 parlamentares. Agora, Picciani liderará o PMDB com 65 deputados e o PEN. O problema é que dentro da própria sigla o deputado do Rio enfrenta uma resistência formal. Ao menos 22 colegas de bancada do PMDB declararam sua contrariedade com o alinhamento de Picciani ao Planalto.
Alguns dos artífices do rompimento do bloco disseram nesta quarta que, esse cenário mostra que Picciani, na verdade, lidera menos de 50 colegas. "Ele não vai poder entregar tudo o que a Dilma comprou quando se sentou para conversar com ele", resumiu um peemedebista que faz parte da ala do partido que atua na oposição.
A manobra ocorreu com o conhecimento e o aval do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ). A aproximação de Picciani com o governo irritou deputados ligados a Cunha e até aliados do vice-presidente Michel Temer.
ESTRATÉGIA
O esvaziamento de Picciani começou a ser articulado há cerca de 15 dias. No início, os deputados dos partidos alinhados ao PMDB planejavam apenas tirá-lo da liderança do "bloco da maioria". Depois, no entanto, optaram por esfacelar o grupo, evidenciando o racha.
A ação quer, acima de tudo, expor o Palácio do Planalto, que passou a apostar no deputado do Rio como seu principal interlocutor, especialmente após Eduardo Cunha romper publicamente com o governo Dilma.
Com o apoio do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, aliados da presidente se aproximaram de Picciani, numa tentativa de estabelecer um diálogo direto com o PMDB, sem a intervenção de Cunha ou mesmo de Temer.
Com essa aproximação, Picciani conseguiu emplacar dois ministros na reforma promovida pela petista na última semana. Ele participou pessoalmente dos acordos pela nomeação de Celso Pansera (PMDB-RJ) no Ministério da Ciência e Tecnologia e de Marcelo Castro (PMDB-PI) no Ministério da Saúde.
O protagonismo do deputado, no entanto, acabou melindrando outros líderes da legenda e da base aliada.
Procurado pela reportagem para comentar o rompimento do bloco, Leonardo Picciani não deu retorno aos telefonemas.