Lobista do PMDB diz que pagou despesas para filho de Lula
Acusação foi feita por Fernando Baiano em acordo de delação premiada que foi homologado pelo Supremo
Advogado de Lulinha afirma que ele nunca recebeu nada de Fernando Baiano; ex-presidente não comenta
O empresário Fábio Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, em foto de 2010
O operador do PMDB Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, disse em seu acordo de delação premiada que um dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi beneficiado, de maneira indireta, por pagamentos do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
Neste domingo (11), o jornal "O Globo" publicou a informação de que Baiano contou em sua delação que teria quitado gastos pessoais de Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, primogênito de Lula, no valor de R$ 2 milhões.
A Folha confirmou com profissionais que atuam na Lava Jato que Baiano citou um dos filhos de Lula, mas a reportagem não conseguiu comprovar se o valor foi mesmo R$ 2 milhões nem se o beneficiado pelo repasse teria sido Lulinha ou outro filho.
Os advogados de Lulinha negam que ele tenha recebido qualquer benefício de Baiano. Já o ex-presidente Lula não quis comentar a acusação.
A delação de Fernando Baiano foi homologada na sexta (9) pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.
O lobista ficará detido até 18 de novembro, quando completa um ano de sua prisão pela Polícia Federal.
Depois ficará um ano em prisão domiciliar em regime fechado e mais um ano em prisão domiciliar semiaberta –ele terá de voltar para casa à noite e nos fins de semana. Nos dois primeiros anos de prisão domiciliar, terá de usar tornozeleira eletrônica; no terceiro ano, ele poderá ficar sem ser monitorado à distância pela Polícia Federal.
CUNHA E CAMPANHAS
Além do suposto pagamento a um dos filhos de Lula, Baiano relatou em sua delação que ajudou a resolver uma dívida da campanha de Lula em 2006, que deu dinheiro para a campanha de Dilma Roussef em 2010 e que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, recebeu US$ 5 milhões de propina em contas na Suíça.
O pagamento de R$ 6 milhões para a campanha de Lula em 2006 foi resolvido, segundo o lobista, com um empréstimo de R$ 6 milhões feito pelo Banco Schahin ao pecuarista José Carlos Bumlai. Para compensar o empréstimo teria servido para quitar dívidas de campanha, o grupo Schahin foi agraciado com um contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras, de sondas para exploração de petróleo, uma área que a empresa não tinha nenhuma experiência.
OPOSIÇÃO
Líderes da oposição classificaram como muito graves as denúncias de que o filho do ex-presidente Lula. Para os parlamentares, as denúncias podem colocar Lula no centro das investigações da Operação Lava Jato.
"Se Lula, que é o pai, fez o que fez, agora com os filhos enriquecendo, abusando da influência dele, não seria diferente. O fato vem a agregar aos desmandos das pessoas que integram esse esquema criminoso", disse o líder do PPS, Rubens Bueno (PR).
"Se a delação for confirmada, é um fato gravíssimo. Chega na cúpula do governo", afirmou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).
O líder do partido no Senado, Ronaldo Caiado (GO), afirmou que, "uma vez comprovada a ligação entre um dos principais lobistas do petrolão e o filho do ex-presidente, cai por terra qualquer linha de defesa de Lula que o coloca como corpo estranho às investigações da Lava Jato".
Para Caiado, com a delação validada pelo Supremo abre-se um novo capítulo das apurações que colocam Lula no centro da Lava Jato.
"O fato novo é grave e merece uma investigação profunda e aberta. Só assim podemos identificar e acelerar a prisão do cabeça de todo o esquema do petrolão", afirma.