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Destruição deve acelerar reformulação de programa

Governo já havia encomendado novo plano para orientar pesquisas

Segundo cientistas, uma das ideias é montar 'estrutura mínima' fixa e ter bases em outros lugares

DE BRASÍLIA

A destruição de 70% das instalações da estação Comandante Ferraz deve precipitar a reformulação do Proantar (Programa Antártico Brasileiro) pelo governo.

O ministério já havia encomendado a um comitê de cientistas um plano para orientar as pesquisas na região no período 2012-2021.

"Vamos ter de acelerar isso agora", disse o secretário de Programas de Pesquisa do Ministério de Ciência e Tecnologia, Carlos Nobre.

Pesquisadores do comitê ouvidos pela Folha afirmam que a tragédia traz também a oportunidade de reconstruir o programa -e a base- de forma diferente.

"O Proantar nos últimos anos tomou um rumo de diversificação", diz o biofísico Heitor Evangelista, da UFRJ, um dos primeiros brasileiros a pesquisar na Antártida. "A pesquisa não fica só na estação; temos navio, acampamentos e trabalhos no interior do continente."

Segundo ele, uma das ideias é montar uma "estrutura mínima" em Ferraz e avaliar a possibilidade de bases em outros lugares.

O Proantar foi criado em 1982 com fins diplomáticos: o Brasil precisava ter um programa para poder ser parte do Tratado da Antártida, o clube de nações que gerencia o continente.

Em 1984, para apoiar a ciência, foi instalada a Estação Antártica Comandante Ferraz, na ilha Rei George.

Para Yocie Yoneshigue, coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais, a estrutura terá de ser revista. "Se fossem blocos separados, talvez o fogo não se alastrasse", diz.

A microbióloga Vivian Pellizzari, da USP, concorda. "Seria a oportunidade de reavaliar a estrutura em contêineres." Segundo ela, a concepção de Ferraz é antiga e os sistemas de energia e de hidráulica são ruins. "Todo ano a água no nosso módulo congela."

Ela reivindica a participação dos cientistas no processo, já que, apesar de ser uma estação de pesquisas, quem decide é a Marinha.

O incêndio também traz preocupações científicas mais imediatas. Vários grupos de pesquisa -especialmente os de biologia, cujos laboratórios ficavam dentro do complexo principal- perderam tudo: equipamentos, amostras, dados. "Sem energia não tem congelamento e não há como conservar o material", conta Pellizzari. Neusa Paes Leme, pesquisadora do Inpe que estuda o buraco na camada de ozônio sobre a Antártida, não perdeu equipamentos nem dados colhidos, repassados via on-line para o Brasil. A preocupação, diz, é com a retomada da energia.

O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse ontem que o programa brasileiro na Antártida está mantido e que a estação deverá ser reconstruída dentro de nove meses. "O programa é importante não apenas para o Brasil como para a própria humanidade", afirmou ele.

Na avaliação do ministro, enquanto o local estiver sendo reconstruído, pesquisadores poderão prosseguir paralelamente com seus trabalhos.

(CLAUDIO ANGELO, ELIANE CANTANHÊDE, JOHANNA NUBLAT E SIMONE IGLESIAS)

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