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Dilma culpa ações de países ricos por 'tsunami' de dólares

Governo amplia cobrança de imposto sobre empréstimos feitos no exterior para tentar conter valorização do real

Presidente promete medidas para proteger indústria nacional, mas analistas veem nova tentativa com ceticismo

LORENNA RODRIGUES
FLÁVIA FOREQUE
MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA

O governo lançou mão ontem de mais um aumento de impostos para tentar conter a entrada de dólares no Brasil, voltou a atacar políticas adotadas pelos países ricos para reerguer suas economias e prometeu medidas para proteger a indústria nacional.

Como a Folha antecipou ontem, a equipe econômica ampliou a cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre empréstimos tomados no exterior.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que novas iniciativas poderão ser tomadas para conter a entrada de dólares e que o governo não ficará "impassível" diante da "guerra cambial".

Logo depois do anúncio da medida, a presidente Dilma Rousseff aproveitou um evento da indústria da construção civil no Palácio do Planalto para atacar os países ricos ao discursar para uma plateia de empresários e sindicalistas.

Dilma afirmou que os países desenvolvidos provocaram um "tsunami" de dólares, prejudicando países emergentes como o Brasil.

"Vamos continuar desenvolvendo este país, defendendo sua indústria, impedindo que os métodos de saída da crise desses países desenvolvidos impliquem canibalização dos mercados dos emergentes", afirmou.

O Banco Central Europeu repassou nesta semana ao setor bancário cerca de € 530 bilhões em empréstimos a taxas de juros baixas, numa tentativa de fortalecer as instituições financeiras e assegurar a oferta de crédito.

Desde o início da crise global em 2008, os Estados Unidos têm mantido suas taxas de juros perto de zero para tentar estimular a economia.

Essas política, que Dilma classificou como "inconsequente", tem colaborado para aumentar o fluxo de recursos para países emergentes, cujas economias crescem atualmente em ritmo mais acelerado que a média global.

A entrada de dólares no Brasil tem feito o real se valorizar em relação ao dólar, o que estimula o aumento das importações e encarece as exportações, prejudicando setores da indústria nacional.

O governo adotou várias medidas desde o ano passado para conter a entrada de dólares, mas a cotação da moeda americana continuou caindo. O dólar fechou ontem em R$ 1,712. Desde o início do ano, a queda foi de 8,4%.

Com a nova medida anunciada ontem, os empréstimos externos com prazo de até três anos ficam sujeitos a 6% de IOF. A alíquota já incidia para operações com prazo menor, de até dois anos.

A medida foi recebida com ceticismo no mercado financeiro. Para economistas, a cobrança não será suficiente para encarecer os empréstimos a ponto de desestimular bancos e empresas brasileiras de buscar esses recursos.

No final do dia, o Banco Central anunciou também que uma modalidade específica de tomada de empréstimo lá fora, voltada para exportadores e que antes não tinha de pagar IOF, também estará sujeita ao imposto.

A partir de agora, operações para a chamada antecipação de receita -quando o exportador toma empréstimo para receber antes por mercadoria que será vendida- também pagará IOF se o prazo for superior a 360 dias.

Segundo Mantega, o governo não tem um patamar ideal para o dólar, mas uma cotação "entre R$ 1,50 e R$ 1,60" é prejudicial.

Colaborou PRISCILLA OLIVEIRA, de Brasília

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