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Mudança no câmbio leva dólar a maior valor desde janeiro

Moeda americana passa de R$ 1,80 depois que imposto para entrada de recursos no país sobe pela segunda vez

Analistas reclamam de incertezas; objetivo da equipe econômica é defender a indústria doméstica, estagnada

MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO

O anúncio de mais uma intervenção do governo para frear a valorização do real fez o dólar subir ontem e voltar a R$ 1,805, o que não era visto desde o início de janeiro.

O Ministério da Fazenda estendeu ontem a cobrança de 6% do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para empréstimos no exterior com vencimento em até cinco anos, como havia antecipado a Folha. Antes, eram taxadas operações de até três anos.

É a segunda vez, em pouco mais de dez dias, que o governo amplia a taxação de recursos que entram no país.

Se a ação ajuda o governo a conter a valorização da moeda brasileira, também provoca incertezas no mercado.

Analistas afirmam que as repetidas intervenções estão provocando insegurança entre investidores e empresas que dependem do câmbio para operações de compra e venda no exterior.

"Esse alvoroço provocado pelo governo afeta exportadores e desestimula empresas que estejam pegando dinheiro emprestado para aumentar seu capital de giro e sua produção", afirma Sidney Nehme, sócio da corretora de câmbio NGO.

Para analistas, a perspectiva de que o governo continuará atuando deve manter o dólar num patamar mais elevado nos próximos dias.

"Toda insegurança gera contração. A perspectiva agora é que entrarão menos dólares no país", diz Nehme.

A Folha apurou que, no governo, a estratégia é continuar adotando medidas gradualmente, mantendo o mercado "assustado" e o dólar no patamar acima de R$ 1,70.

Desde o início do mês, o dólar subiu quase 5%. Para analistas, o governo dá sinais de que busca intervalo de R$ 1,70 a R$ 1,90 para o dólar.

O objetivo -já explicitado tanto pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) quanto pela presidente Dilma Rousseff- é defender a indústria doméstica, que teve queda de 2,1% na produção em janeiro e passou 2011 estagnada.

Industriais se queixam que o real valorizado deixa importados mais baratos e dificulta exportações. A injeção de recursos pelos países desenvolvidos para reativar suas economias aumenta a pressão sobre o real.

O economista-chefe da corretora Prosper, Eduardo Velho, observa que a entrada de recursos no Brasil ainda não indica que esse "tsunami de dólares", como disse a presidente Dilma, já tenha chegado ao país.

Dos cerca de US$ 12 bilhões que entraram no Brasil pelo canal financeiro nos primeiros dois meses do ano, US$ 7 bilhões são de um empréstimo feito pela Petrobras.

"O governo parece querer se antecipar ao tal tsunami para não repetir 2010, quando a cotação chegou a

R$ 1,60", diz o economista. "Mas é bom lembrar que a incerteza lá fora é grande."

O economista Natan Blanche, sócio da consultoria Tendências, calcula que o Brasil precisará de US$ 115 bilhões neste ano para cobrir o deficit na conta externa e despesas de empresas com compromissos no exterior.

"Não se brinca com isso. Precisamos de recursos para fechar a conta", afirma.

Outro problema no radar dos analistas é a possível volta da inflação entre o fim de 2012 e 2013. Com o corte mais forte da taxa de juros na semana passada, analistas ouvidos pela pesquisa Focus do BC elevaram a previsão de inflação em 2012 e em 2013.

Colaboraram LORENNA RODRIGUES e PRISCILLA OLIVEIRA, de Brasília

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