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Ilan Goldfajn

Juros não são nosso único problema, diz ex-diretor do BC

Baixa competitividade da indústria e mão de obra pouco qualificada são desafios

DE SÃO PAULO

Economista-chefe do maior banco privado do país, o carioca Ilan Goldfajn, 46, diz que o debate sobre a economia não deveria ficar restrito à taxa básica de juros, definida a cada 45 dias pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central.

"Temos problemas tão ou mais importantes", afirma o executivo do Itaú Unibanco.

Em entrevista à Folha, Goldfajn diz que problemas como a baixa competitividade da indústria nacional e a falta de mão de obra qualificada em vários setores são tão ou mais importantes para o futuro do país do que o nível dos juros. (Mariana Carneiro)

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Folha - O BC está baixando juros mesmo com a expectativa de que os preços voltarão a subir em 2013. Acha que estão desafiando a inflação?

Ilan Goldfajn - O governo tem o objetivo reacelerar a economia de um período mais fraco, que foi o ano passado e o começo desse ano. A inflação está caindo, e no primeiro trimestre ela foi relativamente benigna. É possível que, com a retomada, ela pare de cair e suba um pouco, mas será menor que em 2011.

Faz diferença uma inflação de 4,5% ou de 6,5%?

Quanto menor melhor. A taxa de juros pode ser menor. Passamos pelo esforço de sair da hiperinflação, da inflação alta, depois superamos os sustos inflacionários. Todos os esforços foram bem-vindos. Inclusive o do ano passado, quando a inflação chegou a 7% e a baixamos.

Mesmo que haja sacrifício?

No longo prazo não há essa troca. Ao contrário, uma inflação menor é bom para o crescimento. Com estabilidade, as pessoas planejam o futuro, investem mais e a distribuição de renda é melhor.

Críticos dizem que o governo está abandonando o sistema de metas de inflação, implantado na época em que o senhor estava no BC.

Tem coisas que estão mudando. Hoje, existe a visão de que medidas macroprudenciais [que restringem o crédito] fazem parte do instrumental do governo. No passado, esses instrumentos eram menos bem vistos. Já outras coisas não são mudanças. Se a economia desacelerou, é possível alongar o prazo de convergência [da inflação] para a meta sem que isso signifique abandono.

Este BC já foi acusado de ser pouco transparente. Como avalia isso?

Se há uma coisa de que não se pode reclamar é da transparência. A última ata [da reunião que cortou os juros para 9,75%] é muito clara sobre onde o BC quer chegar.

É uma mudança de estilo?

Não me lembro desse estilo no passado. O benefício de ser transparente é que não há dúvidas. Sabe-se que o BC quer chegar a uma taxa de juros um pouco acima do mínimo histórico de 8,75%. Então deve querer chegar a 9%.

Por que em alguns momentos os bancos centrais são menos transparentes com isso?

Porque se dão certa flexibilidade de ir analisando ao longo do tempo até se decidir. Sendo mais transparente, o BC se compromete mais. Mudanças têm que ser explicadas com mais intensidade.

É justificável toda a ansiedade a cada reunião do Copom?

Na medida em que o país se normaliza, as decisões ficam menos importantes. A ansiedade um pouco além da conta é típica de países que estão na convergência de um juro alto para padrões internacionais. Estamos ansiosos por uma taxa mais baixa.

Mas se justifica?

Temos vários problemas econômicos que são tão ou mais importantes do que a taxa básica, como a falta de mão de obra qualificada e como melhorar a competitividade da indústria.

No ano passado crescemos 2,7%, depois de 7,5% em 2010. Qual é a realidade do Brasil, crescer 7% ou 3%?

Um crescimento em torno de 4% parece razoável. Não que a gente não queira crescer mais. Mas essa é a média do que temos crescido, olhando a disponibilidade de mão de obra e de investimento.

Crescer 4% em vez de 3% parece uma diferença pequena.

Ao longo dos anos, é uma grande diferença. Significa que todo ano você está produzindo mais e que as pessoas poderão ter um padrão de vida melhor. Se o país crescesse 4% ao ano e não 2,7%, em 30 anos a renda per capita [dividida por cada brasileiro] poderia ser 46% maior.

O governo parece ansioso em retomar o crescimento?

Temos confiança de que a recuperação virá. Esperamos que no 2º semestre haja uma expansão forte, que resultará num crescimento em 2013 acima de 5%. Talvez o governo esteja menos certo da recuperação e quer se garantir.

Leia a íntegra em folha.com/no1063415

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