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Análise / Economia

Ampliar investimentos exige mais que conversa

Reunião que presidente tem hoje com empresários ajuda, mas não resolve problema concreto para aumentar crescimento

LUIZ GUILHERME PIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A intenção da presidente Dilma com a reunião que tem hoje com representantes do setor privado é motivar o empresariado brasileiro, sobretudo o industrial, a investir para ampliar e aumentar a agregação de valor da produção interna e dar mais torque ao crescimento do PIB -que, em 2011, ficou em apenas 2,7% (somente 0,1% na indústria de transformação).

Pode ser. O crescimento é também um "estado de espírito". Mas apenas isso não resolve. Há condições concretas decisivas.

A reunião ocorre dois dias depois de a Confederação Nacional da Indústria divulgar que no ano passado atingimos o recorde de 20% de consumo de produtos industriais importados -proporção que sobe a 21% se considerados só os insumos, atingindo 40% em alguns casos.

É grande a responsabilidade do câmbio valorizado nesses números. Além de os outros países terem produtos para desovar por aqui (dada a crise por lá) e de a China inundar o mercado mundial, a valorização do real torna a importação mais barata. Ao mesmo tempo, as exportações ficam caras.

Esse quadro, para a indústria, é muito negativo. E mais: o crédito para financiamento da produção é escasso e caro -BNDES à parte. Não há discurso motivacional que crie nos empresários fé para mover essas montanhas.

Mas do lado do governo também há obstáculos. O quadro internacional favorece a vinda de capitais para o Brasil, o que valoriza mais o câmbio. A importação tem sido valiosa no combate à inflação. Os produtos primários exportados têm evitado deficit comerciais externos. E a demanda interna (emprego e renda em alta) tem sido atendida pelos importados -aspecto de grande importância social e política.

É um quadro difícil de desarmar. Mas seria pior sem encontros entre o governo e o empresariado, que sempre podem ganhar com o diálogo.

Para Dilma, restará outra questão, com dois riscos: a versão que se imprimirá sobre sua atitude na reunião. Se muito afável, parecerá na defensiva; se muito dura, parecerá em confronto.

LUIZ GUILHERME PIVA, economista e doutor em ciência política, é diretor da LCA Consultores.

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