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Gravações revelam favores de senador para empresário

Diálogos mostram Demóstenes Torres atuando no Congresso para Cachoeira

Ex-líder do DEM ajudou a resolver pendências com governo e discutiu com ele projeto que tratava de jogos de azar

LUCAS FERRAZ
ANDREZA MATAIS
DE BRASÍLIA

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) usou o cargo para atender pedidos do empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal e investigado por suspeita de explorar ilegalmente jogos de azar.

Em setembro do ano passado, Demóstenes ajudou a abrir portas na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para representantes de um laboratório farmacêutico que é controlado por Cachoeira, segundo a polícia.

De acordo com os registros da Anvisa, o senador pediu uma audiência para tratar de um "protocolo sobre o câncer", mas usou a reunião para discutir pendências do laboratório Vitapan, incluindo pedidos de renovação dos registros de seus produtos.

Gravações cujo conteúdo foi publicado pelo jornal "O Globo" ontem também mostram Demóstenes discutindo com Cachoeira um projeto de lei que transforma em crime a exploração de jogos de azar, nomeações de funcionários do Senado e o andamento de um processo judicial de interesse do empresário em Goiás.

Outras gravações, cujas transcrições foram obtidas pela Folha, mostram que Cachoeira pediu a ajuda de Demóstenes para impedir a convocação do empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, para depor numa comissão da Câmara, em maio do ano passado.

A Delta cresceu nos últimos anos fazendo negócios com o governo federal e vários Estados e Cachoeira tinha interesse em promover negócios da construtora com o governo de Goiás, de acordo com a investigação da PF.

Figura proeminente da oposição, Demóstenes caiu em desgraça após a revelação de suas relações com Cachoeira, que serão investigadas por inquérito aberto nesta semana pela Procuradoria-Geral da República.

As conversas gravadas pela PF mostram que o senador tinha intimidade com Cachoeira. Demóstenes chamava o empresário de "professor" e era tratado como "doutor".

No diálogo em que os dois discutem a convocação de Cavendish na Câmara, o senador procura tranquilizar o empresário, dizendo que não havia possibilidade de o pedido ser aprovado.

"Manda ele retirar o requerimento", pediu Cachoeira. O senador do DEM respondeu: "Não, isso não aprova não, professor, isso tem uns 300 requerimentos aqui também no Senado, isso não aprova de jeito nenhum, não precisa nem preocupar".

O requerimento que propôs a convocação de Cavendish foi apresentado pelo deputado Delegado Waldir, do PSDB de Goiás, que atuou como suplente no ano passado, por quatro meses.

"Fiz o pedido de convocação para apurar suspeitas de fraudes na prefeitura de Goiânia, mas a convocação não saiu", disse à Folha. "O PT e o PMDB também atuaram para barrar a convocação".

Em outro momento da mesma conversa, Demóstenes e Cachoeira discutem a situação do então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que estava prestes a sair do governo por causa do embaraço criado pela revelação de seu enriquecimento como consultor de empresas.

"O Palocci mandou todo mundo atrás de mim aqui, para você ver. Todo tipo de proposta", diz Demóstenes. "Tem tudo, tudo o que você pensar. Cada hora vinha um. Muito, muito sem vergonha. Esse não aguenta nem mais um bafo na nuca, viu?"

Colaborou JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, de Brasília

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