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Deputado recebeu R$ 175 mil de Cachoeira

Ator Stepan Nercessian admite ter pego empréstimo para comprar apartamento, mas diz que não suspeitava de empresário

Dinheiro, R$ 160 mil, foi devolvido, segundo extrato; mais R$ 15 mil foram para ingresso de Carnaval para Cachoeira

FILIPE COUTINHO
LEANDRO COLON
FERNANDO MELLO
DE BRASÍLIA

O deputado federal e ator Stepan Nercessian (PPS-RJ) recebeu R$ 175 mil no ano passado do empresário Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar uma quadrilha que explorava o jogo ilegal.

Stepan admitiu à Folha que recebeu o dinheiro, após ser informado de que as transações aparecem em grampos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que levou à prisão de Cachoeira.

Ele confirmou que recebeu do empresário um depósito no valor de R$ 160 mil em 17 de junho no passado.

Segundo Stepan, o montante era para ser usado na compra de um apartamento no Rio, avaliado em mais de R$ 500 mil. No dia 20 de junho, o deputado devolveu o dinheiro para a mesma conta de uma empresa do grupo de Cachoeira, segundo extrato que ele enviou à Folha.

"Estava fazendo o empréstimo [com um banco para comprar o imóvel] e, na hora 'H', fiquei com medo de não sair o dinheiro e pedi para ele [Cachoeira], para não perder o negócio. Ele é um cara que eu sei que se eu pedisse ele emprestava. Acabou que o empréstimo saiu e não precisei do dinheiro", afirmou.

Stepan disse que é amigo de Cachoeira há muitos anos, já que os dois são de Goiás.

O deputado também admitiu que recebeu, em março do ano passado, outros R$ 15 mil do empresário investigado. O dinheiro, diz, foi usado para comprar ingressos do Carnaval carioca para Cachoeira.

O deputado diz que pode se licenciar. "Qualquer coisa que tenha que fazer, para esclarecer, a primeira coisa que farei é me licenciar. Mesmo eu estando tranquilo, o PPS não merece ser envolvido."

Na operação, a PF levantou conversas de Cachoeira sobre as transações.

"Carlinhos fala para Geovani mandar uma mensagem para o deputado federal Stepan Nercessian para ele depositar 160 numa determinada conta", diz a PF.

Um minuto depois, Cachoeira passa para o colega o celular de Stepan, usado pelo deputado até hoje, e "fala para Geovani que não é mais para usar o celular porque tem medo de estar grampeado".

Stepan disse que acreditava "completamente" que o dinheiro emprestado era legal.

"Juro que não sei as nuances, mas para mim ele era um empresário. Não estava pedindo um dinheiro 'dado'. Era para devolver", disse.

Cachoeira ficou nacionalmente conhecido em 2004, no primeiro escândalo do governo Lula -um vídeo mostrava pedido de propina que derrubou Waldomiro Diniz.

Na atual investigação, um homem relata como Cachoeira se gabava de ter relações com políticos. "O homem falou que tem o poderio na mão, tem governador, senador, deputado, é tudo."

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