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Justiça proíbe carteirada que 'dava' trânsito livre a políticos

Papel era fornecido sem amparo legal pela Ordem dos Parlamentares do Brasil

Ministério Público diz que carteirinha poderia confundir autoridades e estava sendo usada para atos criminosos

Adriano Vizoni/Folhapress
Sede da Ordem dos Parlamentares do Brasil, que está em processo de extinção
Sede da Ordem dos Parlamentares do Brasil, que está em processo de extinção

FLÁVIO FERREIRA
DANIEL RONCAGLIA
DE SÃO PAULO

A Justiça de São Paulo determinou a suspensão das atividades de uma entidade que distribuía carteirinhas com o objetivo de conceder facilidades a seus portadores.

O papel, que tem brasão e aparência de documento oficial, traz uma solicitação a autoridades civis e militares para que seja concedido "trânsito livre" aos que o possuem.

A decisão judicial mandou ainda recolher todas as carteirinhas, que eram fornecidas pela OPB (Ordem dos Parlamentares do Brasil).

A entidade, criada em 1976, reúne em sua maioria políticos de pouca expressão e é apontada pelo Ministério Público como "mera associação civil de direito privado, sem nenhuma ligação direta ou indireta" com o Legislativo.

A principal inscrição orienta: "Solicitamos as autoridades civis e militares facilitarem ao portador livre trânsito para o bom desempenho das funções".

Os privilégios concedidos aos portadores da carteira mencionam duas normas que não têm relação com garantias a parlamentares, de acordo com o Ministério Público.

São elas a lei federal 7.437/85, a chamada Lei de Ação Civil Pública, e o decreto federal 92.302, que regulamenta o Fundo para Reconstituição de Bens Lesados.

A OPB diz que está em processo de extinção, devido a problemas financeiros.

Ela afirma ainda que a carteira foi criada na década de 70 "para servir como instrumento de proteção contra a ditadura militar".

CARTEIRADA

A decisão da Justiça de primeira instância de São Paulo (6ª Vara Cível) foi tomada em caráter provisório, em 29 de fevereiro, e publicada no mês passado.

Segundo o promotor Nadir de Campos Júnior, autor da ação civil pública, as carteirinhas tinham o objetivo de confundir as autoridades e estariam sendo usadas por criminosos.

Para ele, a verdadeira finalidade da entidade seria "auferir dinheiro decorrente do pagamento de mensalidades para apenas conferir uma carteirinha aos associados".

Em um dos casos citados, o portador da carteirinha da OPB foi detido por causar um acidente de trânsito e apresentar sinais de embriaguez.

Além de buscar se livrar da detenção, ele teria usado a carteira para tentar dar "voz de prisão" aos policiais.

Na ação, a Promotoria aponta ainda que uma carteira foi apreendida com um homem condenado a 15 anos de prisão sob a acusação de chefiar uma quadrilha de roubo de carga na região de Guaratinguetá (SP).

No documento, ele era indicado como "assessor político".

Em outro caso, o Ministério Público afirma que uma pessoa presa, em março, com 300 quilos de cocaína também portava uma carteira.

HOMENAGENS

Nos últimos anos, a entidade tem como principal atividade a entrega de títulos a empresas que contribuem para a festa de premiação.

A OPB é presidida pelo suplente de deputado Dennys Haddad Serrano (PSB), que teve apenas 1.758 votos na eleição passada.

De acordo com o advogado da OPB, Ricardo Sikler, nem 5% dos associados têm pagado a contribuição nos últimos dois anos.

Segundo o Ministério Público, seriam 2.900 o total de carteirinhas confeccionadas, sendo que metade já teria sido recolhida.

O último encontro da OPB reuniu 21 pessoas, de acordo com a Promotoria.

A entidade tem como sede principal um casarão na região nobre dos Jardins (zona oeste de São Paulo).

O site dela foi tirado ar após a Folha procurar seus representantes na sexta-feira passada.

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