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Janio de Freitas

Carlinhos Demolidor & Cia.

Como eram retribuídos os deputados pelo beneficiado é uma das partes em falta no material vazado pela PF

NO CASO do senador Demóstenes Torres falta um elemento fundamental para torná-lo inteligível. Já é difícil entender que, sob a conduta parlamentar rigorosa, estivessem atos comprometedores, e sem dar, jamais, sequer um pequeno sinal para suspeita. Mas que retribuição o senador recebia de Carlinhos Cachoeira pelas contribuições que lhe deu? E que compensações tiveram, de Carlinhos Cachoeira, os deputados do seu lote de políticos colaboradores?

O já visto, com penetração até na Receita Federal e na Infraero para contrabando, assegura que os serviços agenciados para Carlinhos Cachoeira não se limitavam à área parlamentar. O que e como eram retribuídos pelo beneficiado é uma das partes em falta no material vazado pela Polícia Federal. Ou, menos provável, ainda não encontrada nas investigações.

Os escândalos de improbidade são, como regra, o ponto final de uma linha de pegadas e de impressões digitais que já marcam desde longe, aos olhos gerais, o personagem central do episódio. Não foi só aí que Demóstenes Torres fugiu à regra. No seu caso, ao contrário do que se deu com outros em situação moral semelhante, há também o que lamentar.

No papel de congressista, Demóstenes Torres teve desempenho muito bom. Presente e ativo, preparado e impetuoso, o reconhecimento de sua ação foi um tanto prejudicado por ser do DEM. E mais identificado com os conservadores moderados. Mas nem por isso seria justo negar, ou esquecer, que sua esperada saída, se confirmada, será uma perda na atividade do Senado. Ainda que permaneça, aliás, e a menos que consiga dar uma virada mirabolante no caso, Demóstenes Torres não teria mais o destaque que alcançou entre os senadores.

A atual derrubada feita por Carlinhos Cachoeira ocorre, por acaso, quando se dá a condenação de Waldomiro Diniz, o primeiro (que se saiba) dos demolidos por seus negócios. Waldomiro foi filmado quando pedia, e não levou. E os de agora, o que levavam sem precisar pedir?

A CORES

O pequeno grupo de militares da reserva que, na distante praia da Reserva (no Recreio dos Bandeirantes) celebrou o golpe de 64, deixou no ar uma curiosidade. É que um dos seus paraquedas era feito de faixas com as cores do arco-íris, adotadas como símbolo pelos gays. Seria homenagem também aos gays ou -bem, outra coisa?

Mas correu tudo sem incidente, com uns 40 ou 50 presentes. Já em frente ao Clube Militar, por pouco a repressão não provocou tumulto sério. Ali houve mais do que manifestação: houve um prenúncio.

Com as pretendidas ações de militares da reserva contrárias à Comissão da Verdade e a já prometida reação dos favoráveis, é grande a probabilidade de perda do controle em um dos confrontos. Pelo visto, pode ser já no próximo.

EXECUÇÃO

A Polícia Federal não precisa interromper a liberação de informações do caso Cachoeira/Demóstenes para dar alguma informação sobre outro assunto relevante. A menos que não a tenha.

Milton Santos Nunes da Silva e Clestina Sales Nunes, casados e líderes dos sem-terra de Miraporanga, Minas, foram executados a tiros na semana passada, em evidente crime encomendado por fazendeiros. O governo ainda não teve o que dizer a respeito.

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