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Janio de Freitas

Dilma e Obama

O estado das relações entre Brasil e Estados Unidos é, digamos, de discordância amistosa, porém, frontal

O encontro de Dilma Rousseff e Barack Obama, amanhã, pode ser de duas pessoas com muitas ideias em comum, mas não é um encontro, em alto nível, de países aliados. O estado das relações entre Brasil e Estados Unidos é, digamos, de discordância amistosa. Mas frontal. Se não em todos, por certo na maior parte dos assuntos internacionais relevantes.

Há menos de dez anos, tal situação seria ainda impensável. Os Estados Unidos souberam transformar o anticomunismo em instrumento de penetração nas soberanias nacionais dos países sul e centro-americanos. E as manobraram, ainda que, uma e outra vez, precisassem recorrer à força dos golpes de Estado.

A Guerra Fria opôs Estados Unidos e União Soviética, mas suas grandes vítimas foram outros, por diferentes formas e proporções: os países americanos do México para baixo e os integrantes do bloco soviético.

O governo Lula foi beneficiado por se dar, em seu primeiro ano, a explosão de desatinos que levou à invasão do Iraque pelos Estados Unidos. Foi tudo tão imoral na ação do governo Bush, que tomar posição veemente contra os Estados Unidos tornou-se fácil e inatacável, para o governo brasileiro. Não havia mais o comunismo para amparar, politicamente, uma reação americana ao Brasil. E Bush não dispunha de outro argumento para cobrar passividade do Brasil, ao menos isso.

Mesmo que aquela não fosse a primeira discordância com um governo americano, as sucessivas manifestações que o Brasil passou a fazer contra os Estados Unidos, nas questões suscitadas pela invasão, consolidaram sua nova posição. Dali por diante, os passos brasileiros progrediram em linha reta na afirmação de posições independentes, como se o país tomasse consciência da sua soberania.

Os Estados Unidos de Bush suportaram o solavanco; os Estados Unidos de Obama, não. Está recriada a 4ª Esquadra, aquela que, incumbida do Atlântico Sul, mandou navios para auxiliar o golpe de 64 e, se necessário, desembarcar seus fuzileiros navais no Brasil. O governo Obama faz a proposta inicial para criar-se a Organização (militar) do Tratado do Atlântico Sul, a exemplo da Otan criada com a Europa, no Atlântico Norte, para contrapor-se à então URSS. Brasil e Argentina rejeitam.

Sejam quais forem os temas de seu encontro, Dilma Rousseff e Barack Obama só prometem desencontro. Se concordarem em alguma coisa, é improvável que seja a presidente a ceder: o Brasil está em lua de mel com sua afirmação. O presidente está em convívio duvidoso com a reeleição.

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