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cotidiano em cima da hora

Casa de suspeitos de canibalismo vira atração

Curiosos invadem imóvel na periferia de Garanhuns (PE) onde trio morava para tirar fotos e procurar 'lembranças'

Vizinha diz nunca ter percebido nada diferente nos seis meses em que os três acusados moraram ali

FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A GARANHUNS (PE)

Uma pequena casa branca com grades de ferro na esburacada e empoeirada rua das Emboadas, periferia de Garanhuns (a 234 km de Recife), se tornou nesta semana o ponto mais visitado da cidade.

Foi ali o palco da tragédia que causou comoção e medo: a morte de ao menos duas mulheres, esquartejadas e enterradas no quintal do imóvel onde viviam três pessoas.

Preso na quarta-feira, o trio suspeito de ter cometido o crime disse à polícia que comia a carne das vítimas e ainda recheava as empadinhas que uma das suspeitas, Isabel Cristina Torreão Pires da Silveira, 51, vendia na cidade.

Na casa, o cheiro forte de carne podre continua no ar, mas não impede que os curiosos a invadam.

Com celulares na mão e camisas na altura do nariz, eles fazem fotos dos buracos onde os corpos foram achados.

Muitas pessoas ainda reviram os destroços em busca de "lembranças", como pedaços de papel com desenhos e inscrições, que ficaram espalhados após a população saquear e incendiar a casa, na quinta.

"Estou besta até agora", afirmou a dona de casa Quitéria Pereira Cesar, 48, vizinha do trio. "Não consigo mais dormir nem comer direito pensando no que aconteceu."

Quitéria disse não ter percebido nenhuma movimentação diferente no imóvel nos seis meses em que eles viveram ali. "Todos eram calados. E eu não via nada de anormal."

Segundo ela, Jorge Negromonte da Silveira, 51, marido de Isabel, "só saía com o guarda-chuva aberto, sem olhar no olho de ninguém." A amante dele, Bruna Cristina Oliveira da Silva, 25, era a mais discreta, afirmou. Ficava a maior parte do tempo dentro de casa, com a menina de cinco anos que também vivia ali.

Ela seria filha de uma possível terceira vítima, Jessica, 17, supostamente morta em 2008 em Olinda (Grande Recife).

A vizinha não ouviu nenhum barulho diferente vindo da casa ao lado. Os três, afirmou, escutavam som alto até a madrugada ou cantavam acompanhados de violão.

A maior tristeza de Quitéria é saber que os netos, de 4 e 11 anos, comeram as empadinhas. "O menino mais velho já tem problema de saúde, e agora aparece mais essa?"

Na rota de venda dos quitutes, havia hospitais, escolas, bares e até delegacias. Vendidas a R$ 1 a unidade, as empadinhas faziam sucesso.

"Não vou mentir, era gostoso o salgadinho", disse o motorista Valdevan da Silva Ferreira, 38, que costumava comprar petiscos da mulher para acompanhar a cerveja nas partidas de dominó.

"O cara tomando uma, como vai adivinhar o que tem dentro [da empada]?", questionou o pintor Bruno da Silva, 27, parceiro de Ferreira.

No domingo passado, eles fizeram a última compra: duas "bolsinhas".

Os três suspeitos estão presos em Garanhuns e na cidade vizinha de Buíque. Segundo a polícia, uma das mulheres recusou o jantar na quinta-feira, alegando que só comeria carne se fosse humana.

As companheiras de cela pediram para que ela fosse isolada. Foram atendidas.

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