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Janio de Freitas

CPI em problemas

A CPI talvez não ache fatos reais com sensacionalidade proporcional à expectativa criada na opinião pública

A CPI que se oficializa hoje, para receber as indicações partidárias de seus integrantes, traz consigo um risco incomum. Inúmeras CPIs decepcionaram a opinião pública por refrearem, submetidas a interesses políticos e empresariais, as apurações de fatos e responsabilidades já bem caracterizados pelas denúncias e pelo noticiário.

A nova CPI, antecedida por farto escândalo de comunicação, talvez não encontre, nas atividades de Carlos Cachoeira que lhe cabe investigar, fatos reais com sensacionalidade proporcional à expectativa criada na opinião pública. Seria a frustração por outra via.

A não ser que a Polícia Federal esteja escondendo constatações muito graves, a CPI está diante de um problema difícil.

Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, é o assunto oficial da CPI, mas o que deu origem ao caso não foi ele nem foram suas atividades. Foi o pasmo com as relações do senador Demóstenes Torres e Cachoeira. Daí por diante, a própria Polícia Federal, abastecedora e incentivadora do noticiário, em doses de magreza suspeita, estimulou a mistura de fatos, especulações e possíveis iscas no noticiário. Todos com o mesmo tratamento e postos no mesmo nível.

De certo, porém, é que o multiempresário Carlos Augusto Ramos carrega consigo o Carlinhos Cachoeira, controlador de jogos ilegais por caça-níqueis. Como todo contraventor da sua especialidade, tem contato com políticos dos vários níveis, presta-lhes e deles recebe apoio de diferentes gêneros. No país todo, contraventores são íntimos tanto de políticos quanto da polícia. Pelos mesmos motivos.

Notabilizados por filmar e divulgar o pedido de alta propina que lhe fez Waldomiro Diniz, para assegurar-lhe a vitória em licitação na Caixa, Carlos Augusto Ramos e Carlinhos Cachoeira não constam, nos vazamentos da PF, como autores ou mandantes de crimes de morte.

Ou de outros usos da violência criminosa. Corrompem. Em benefício de sua atividade contraventora e em benefício de sua atividade empresarial. São agentes de corrupção nos níveis governamentais de prefeituras, Estados e no federal.

Desse currículo vem uma indagação: por que Carlinhos Cachoeira, preso em Goiás, foi mandado para uma penitenciária de segurança máxima em Mossoró, Rio Grande do Norte, própria para criminosos socialmente perigosos e autores de crimes monstruosos? Onde nem lhe foi permitido ter conversa direta com sua advogada?

Sobretudo se, menos de 24 horas depois, uma juíza considerava inexistir motivo para Carlinhos Cachoeira estar em prisão de segurança máxima, estar impedido de contato direto com a advogada, e estar no Rio Grande do Norte, e não em Goiás e Brasília sob condições normais de prisão.

CPI e Polícia Federal não precisam buscar as respostas. É assunto, grave e urgente, para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e para a corregedoria e o pleno do Conselho Nacional de Justiça.

Tudo indica a repetição de uma brutalidade contra a legislação penal, contra a legislação de direitos humanos, e nostálgica dos modos da ditadura.

Contraventor, criminoso, ou lá o que seja, em democracia tem que ser tratado em respeito às leis do regime: Mossoró não é Guantánamo.

Oposição e governistas, representadas nas relações de Carlinhos Cachoeira, não querem aprofundar na CPI as investigações de políticos. Mas, se a PF não esconde um arsenal para abri-lo quando lhe convier -sabe-se lá porquê e para quê, a CPI de Carlinhos Cachoeira vai ser mesmo a CPI dos seus políticos. E ninguém sabe quantos, quais são e de que partidos.

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