Índice geral Poder
Poder
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Inflação sobe e ameaça estratégia do BC

Em meio a ciclo de corte de juros, índice oficial de inflação praticamente triplica entre março e abril, aponta IBGE

Mesmo com uma retomada em ritmo lento, a inflação acumulou 5,1% nos últimos 12 meses

GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA
MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO

Em plena ofensiva do governo pela redução dos juros, a inflação voltou a superar as expectativas e a evidenciar fragilidades da política de estímulo à economia.

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), usado como referência para as metas oficiais de inflação, subiu de 0,21% em março para 0,64% em abril, segundo divulgou ontem o IBGE.

Os aumentos dos preços do cigarro e dos remédios, ambos determinados pelo governo, e o reajuste de empregadas domésticas responderam por quase 40% do resultado.

Foi a primeira vez, desde a parada brusca da economia no segundo semestre do ano passado, que o índice ficou visivelmente acima das previsões mais consensuais de bancos e consultorias.

Mesmo com um crescimento ainda em ritmo lento, a inflação acumula 5,1% nos últimos 12 meses, acima dos 4,5% fixados como objetivo pelo Banco Central -e ainda poderá sofrer o impacto da recente escalada da cotação do dólar.

JUROS EM QUEDA

Na avaliação de especialistas, os números de abril não chegam a ser, ao menos por enquanto, motivo para mudar a expectativa de que o BC continue reduzindo a taxa básica de juros dos atuais 9% para até 8% ao ano.

No entanto, os dados disponíveis suscitam dúvidas sobre até onde pode ir o afrouxamento da política monetária e sua possibilidade de produzir, sem a ajuda da economia global, uma retomada do consumo e do investimento tão vigorosa quanto almeja a equipe de Dilma Rousseff.

Um dos motivos é a queda dos preços produtos primários -agrícolas e minerais-de exportação, motores do crescimento econômico brasileiro nos últimos anos.

Essa piora poderia contribuir para a queda da inflação e dos juros.

Mas a alta do dólar, patrocinada pelo governo para estimular a competitividade dos produtos fabricados pela indústria nacional, atua no sentido oposto.

"A desvalorização do real tem sido maior do que a queda dos preços das commodities e deve pressionar a inflação nos próximos meses se essa tendência no câmbio continuar", afirma Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista-chefe da Quest Investimentos.

Ontem o dólar subiu mais de 1% no Brasil, reagindo a incertezas políticas na Europa. O dólar ganhou força frente ao euro e a moedas de quase todos os países emergentes. No Brasil, a cotação da moeda americana alcançou R$ 1,963, mais alto valor desde 14 de julho de 2009.

CRESCIMENTO BAIXO

A aposta geral é que o juro baixo não terá tempo de impulsionar a economia neste ano para chegar à marca de crescimento perseguida pelo governo (4,5%).

"Rebaixamos nossa expectativa de crescimento de 3% para 2,6% e, nesse cenário, a inflação não deve acelerar com força", relata Fábio Romão, da LCA Consultores.

Mas a maior parte dos analistas acredita que, em 2013, a recuperação da atividade, mesmo abaixo das estimativas oficiais, elevará a inflação e forçará um novo aperto da política monetária.

"A má notícia é que parece que a economia brasileira tem muita dificuldade de produzir crescimento um pouco mais acelerado sem que, simultaneamente, tenhamos aceleração da inflação", resume Samuel Pessôa, sócio da consultoria Tendências e pesquisador da FGV.

As apostas de que a inflação poderá voltar a acelerar ditou os negócios no mercado de juros futuros, em que investidores negociam expectativas para a evolução das taxas.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.