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Dilma pede Comissão da Verdade sem revanchismo

Presidente diz a indicados que órgão será 'de Estado, e não do governo'

Segundo integrantes, prioridade do grupo será elucidar mortes e desaparecimentos na ditadura militar

DE BRASÍLIA

Em jantar anteontem no Palácio do Alvorada com os sete escolhidos para integrar a Comissão da Verdade, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o grupo será "de Estado, e não do governo".

Segundo relato dos envolvidos, ela disse que proporcionará todos os meios para o trabalho correr sem empecilhos e pediu que não haja "revanchismos" contra militares, como vem repetindo desde que a lei que criou o grupo foi sancionada.

A comissão vai começar seus trabalhos na próxima semana tendo como prioridade a investigação sobre os mortos e desaparecidos na ditadura militar (1964-85).

Além disso, a Folha apurou junto a membros que o grupo vai discutir a possibilidade de investigar crimes cometidos pela esquerda armada no regime.

Sobre os desaparecimentos, o objetivo será aprofundar os trabalhos iniciados em 1995 pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, cuja lei, aprovada no governo Fernando Henrique Cardoso, reconheceu a responsabilidade do Estado nos crimes e nas mortes provocadas pela ditadura.

À época, contudo, a investigação sobre 475 casos de mortos ou desaparecidos não foi aprofundada, nem os envolvidos nos episódios foram ouvidos. É o que vai fazer a nova comissão, cujos sete membros foram indicados anteontem pela presidente Dilma Rousseff.

Além dos mortos e desaparecidos, outro tema prioritário será as grandes operações que ocorreram na fase mais violenta da repressão à esquerda na ditadura, entre 1968 e 1973.

Em relação aos crimes cometidos pela esquerda, membros da comissão afirmaram que o tema ainda precisa ser discutido internamente.

A lei que criou o grupo, contudo, não proíbe que isso seja feito.

Para militares, a comissão só será equilibrada se esses episódios também forem esclarecidos. Familiares de perseguidos na ditadura dizem que essa apuração não é necessária, já que os envolvidos já foram investigados e punidos à época dos fatos.

PORTA-VOZ

O ministro Gilson Dipp, do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), foi escolhido por Dilma para ser, nos primeiros meses, o presidente (ou um coordenador-geral, o termo exato ainda não foi definido) do grupo.

O cargo será rotativo, e seu ocupante terá o papel de ser uma espécie de porta-voz dos trabalhos do grupo.

Os integrantes da comissão vão se reunir pela primeira vez na próxima quarta, após a instalação oficial da comissão, em evento no Palácio do Planalto que contará com a presença de todos os ex-presidentes desde a redemocratização (com exceção de Itamar Franco, morto ano passado).

Ainda não foi definido onde a comissão vai funcionar, mas os integrantes adiantam que será necessário dividir as tarefas entre si, por causa do volume do trabalho. Eles também são simpáticos à criação de outras "bases" fora de Brasília, em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. (LUCAS FERRAZ E KELLY MATOS)

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