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Grupo não atuará em clima de Fla-Flu, diz escolhido por Dilma

Paulo Sérgio Pinheiro afirma que não haverá revanchismo, mas que ex-presos merecem 'verdadeira história' da ditadura

Advogada que defendeu presidente no regime militar promete que colegiado será 'sério' e sem 'imprudências'

DE BRASÍLIA
DE SÃO PAULO
DE RECIFE

Os escolhidos para integrar a Comissão da Verdade afirmam que os trabalhos do grupo não podem ser encarados como uma espécie de Fla-Flu, refutam a tese de revanchismo e dizem que a missão do colegiado é investigar "a história dos vencidos" para, depois, "sepultá-la".

"Isso não é Fla-Flu para ter revanche. Os que sofreram já sofreram intensamente e não deve ser cerceado a eles o direito de ter revelada a verdadeira história do que ocorreu nesse período em que o Estado perpetrou violações de direitos humanos", afirmou à Folha o pesquisador Paulo Sérgio Pinheiro, ex-secretário de Direitos Humanos no governo FHC.

Ele é um dos sete integrantes do grupo nomeado pela presidente Dilma Rousseff para investigar crimes cometidos contra os direitos humanos durante o regime militar.

Além de Pinheiro, integram a Comissão da Verdade a psicanalista Maria Rita Kehl, o jurista Gilson Dipp, o ex-procurador Geral da República Cláudio Fonteles, os advogados José Carlos Dias e José Paulo Cavalcanti Filho, e advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha, que defendeu Dilma no regime militar.

"[O objetivo] é contar a verdade, a história dos vencidos, sobretudo. Apurar esse pedaço da história do Brasil e depois sepultar, porque você não constrói um país olhando para trás", resumiu Cavalcanti Filho, questionado sobre a missão do grupo.

Ele diz que está ciente dos problemas que a comissão enfrentará. "Não só de tempo, de desgaste físico, mas de incompreensões."

O grupo se reunirá na próxima quarta-feira para formular um plano de trabalho. Segundo os entrevistados, a intenção é formular uma estratégia, para evitar convocações de "afogadilho".

"Temos que fazer um trabalho sério e comprometido, mas principalmente equilibrado, sem imprudências", afirmou a advogada Rosa Maria Cardoso.

Ele acredita que o perfil dos nomeados para o colegiado facilitará a condução dos trabalhos. "São pessoas já maduras, sem as angústias juvenis", concluiu.

A psicanalista Maria Rita Kehl não deu entrevista. Em artigo publicado em 2010, ela criticou a pecha de "ressentidos" dada aos que pretendem investigar crimes da ditadura e chamou o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi em São Paulo e possível alvo da comissão, de "reconhecido torturador".

"A sociedade brasileira não está nem aí para a tortura cometida no país, tanto faz se no passado ou no presente. Pouca gente se manifestou a favor da iniciativa das famílias (...) que tentam condenar o coronel Ustra, reconhecido torturador de seus familiares e de outros opositores do regime militar", escreveu.

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