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Os mil casos de Kakay

O advogado das estrelas cadentes e ascendentes fez implante capilar, cultiva barba em homenagem a líder comunista e ganhou fama por livrar políticos

LEANDRO COLON
DE BRASÍLIA

Personagens de alguns dos mais barulhentos casos das últimas semanas, a atriz Carolina Dieckmann, o senador Demóstenes Torres e o governador de Goiás, Marconi Perillo, exibem um mesmo cartão de advogado, o de Antônio Carlos de Almeida Castro.

A missão de Kakay, como é conhecido em Brasília, é anular as provas da Operação Monte Carlo, que traz indícios de envolvimento dos dois políticos com Carlinhos Cachoeira, e buscar a punição de quem vazou imagens íntimas da atriz na internet.

Kakay, 54, é um personagem da política nacional, de cabeleira vultosa, fruto de dois implantes capilares. Quem se mete em confusão na capital federal quase sempre o procura.

Milionário, tem fama de advogado caro, mas não revela a tabela de honorários. Há 20 anos usa um cavanhaque adotado em homenagem ao líder comunista Vladimir Lênin. Kakay esteve na capital da Rússia para uma das 13 cirurgias que fez após perder a visão de um olho, num acidente aos 23 anos.

Mineiro, Kakay criou um estilo próprio de atuar. Colegas creditam parte de seu crescimento às relações que cultiva com políticos e magistrados, além da facilidade com a mídia -atende jornalistas a qualquer hora.

Kakay rebate: "Isso é até ofensivo. A diferença é que talvez eu não tenha o 'rigorismo' do advogado paulistano. Eu levo meu trabalho a sério".

É sócio do Piantella, tradicional ponto de encontro gastronômico da política de Brasília, onde às vezes arrisca cantoria à beira do piano.

TRAJETÓRIA

Poeta nas horas vagas, Kakay -o apelido vem da infância, a primeira palavra que falou- chegou a Brasília em 1977 para estudar direito na UnB. Começou a trabalhar no escritório de José Eduardo Alckmin. Partiu para voo solo em 1994, após divergências entre os dois.

Kakay só assume clientes sob indicação. É homem de confiança de Demóstenes e Perillo, mas amigo do peito do petista José Dirceu e de José Sarney, de quem é sócio numa fazenda.

O contato com o clã maranhense começou em 2002, quando foi contratado em cima da hora para assumir o caso Lunus, que derrubou a pré-candidatura de Roseana Sarney à Presidência.

Na época, a PF apreendeu R$ 1,34 milhão na sede da empresa, que tinha como sócios Roseana e seu marido, Jorge Murad. Ao livrá-la de condenação, passou a ser indicado a quem precisa de socorro nos tribunais superiores.

A relação com o PT é mais antiga. Em 1989, emprestou o Monza da sogra para o ex-deputado Sigmaringa Seixas buscar Lula no aeroporto de Brasília. Quatro anos depois, aproximou-se de Dirceu na CPI do Orçamento.

Já trabalhou para Jorge Bornhausen, do antigo PFL, e para o comunista e ex-ministro Orlando Silva. E revela: "Votei na Dilma".

Segundo amigos e políticos, se o caso exige dedicação técnica diária e exposição de imagem, Kakay cobra caro -na casa do milhão de reais. Quando quer, atende amigos de graça. "Fama de rico, comedor e valente, a gente não desmente", diz.

Assumiu a defesa de Carolina Dieckmann a pedido da amiga Bia Aydar. "Esse caso é importantíssimo para a legislação da internet", diz.

Casado pela terceira vez e pai de três filhos, Kakay despacha de manhã em uma casa de mil metros quadrados.

Almoça, põe a gravata, nem sempre discreta, e à tarde vai ao escritório. Atua em outros negócios, como uma empresa de lombadas eletrônicas com contratos com o governo federal. "Sou só investidor, nem acompanho."

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