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Análise

Veto pode contribuir para fortalecimento de imagem da presidente na área ambiental

GUINADA É IMPORTANTE SE CONSIDERARMOS PERDA DE APOIO DO PT EM SETORES MÉDIOS NOS ÚLTIMOS PLEITOS PRESIDENCIAIS

CLÁUDIO GONÇALVES COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Código Florestal aprovado pela Câmara, ao gosto dos ruralistas, ensejou ampla mobilização em prol do veto da presidente Dilma Rousseff.

Manifestações de lideranças ambientais, artistas, intelectuais e cidadãos em geral, sobretudo em redes sociais, revelam o perfil predominante dos mobilizados: classe média escolarizada. É justamente junto a esse segmento da sociedade que a presidente vem ampliando seu apoio, desde o início do mandato.

O estilo discreto e técnico -em comparação ao do antecessor-, o endurecimento nas tratativas com o Congresso e com a classe política em geral, evidenciado no recente encontro com prefeitos, e o desafio aos bancos na guerra dos juros também contribuem para a melhoria da imagem presidencial junto a um setor da sociedade do qual o governo Lula perdera apoio -principalmente em função de escândalos.

Se a presidente tornar-se agora campeã da causa ambiental com o veto, reforçará ainda mais sua condição de governante petista com apoio das classes médias.

Trata-se de guinada política importante se considerarmos não só a perda de apoio do PT junto aos setores médios nos últimos dois pleitos presidenciais, mas o surgimento de alternativa eleitoral relevante.

O fenômeno Marina Silva galvanizou o apoio desses segmentos tanto em função do tema ambiental como em decorrência do desgaste petista na questão ética.

Ironicamente, Dilma, que aparecia como principal desafeta da ex-ministra do Meio Ambiente, pode agora ficar com os louros da batalha ambiental -já tendo se beneficiado pela "faxina" ética.

Contribui para isso o fiasco do projeto Marina Silva - como líder alternativa- e do PV -como partido capaz de diferenciar-se e crescer.

Ao sair da agremiação pela qual disputou a Presidência para não se sabe bem o quê, Marina perdeu a oportunidade de consolidar o que construiu na campanha. Ao perder seu único líder socialmente relevante, o PV manteve-se como mais um dos micropartidos de adesão ao governo -com o qual vota em três quartos das ocasiões.

Se o PV nunca foi grande coisa mesmo porque o PT historicamente ocupou no campo partidário um espaço que os socialdemocratas europeus nunca tiveram (ensejando o surgimento dos verdes por lá), Dilma tem agora a chance de consolidar sua hegemonia por aqui.

CLÁUDIO GONÇALVES COUTO, cientista político, é professor da FGV-SP

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