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Biografia de Rosane conta sua versão do impeachment

Ex-primeira-dama de Collor acredita que livro pode virar um best-seller

Ela crê que sua fé evangélica foi o motivo por que sobreviveu à "maldição" que matou Pedro Collor e PC Farias

ELIANE TRINDADE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Rosane Collor vai lançar ainda este ano uma biografia com ingredientes que acredita ter potencial de best-seller.

Duas décadas depois do impeachment de Fernando Collor, a ex-primeira-dama pretende dar a sua versão de alguns dos acontecimentos mais surpreendentes da história recente do país. "Quero contar o meu lado, como me senti, como ele se sentiu, as mentiras, onde estava a vaidade", disse ela, à Folha, no último dia 15, em Maceió.

Será o testemunho de uma ex-mulher desapontada com o homem e com o político. "Fernando foi o grande amor da minha vida e também a minha grande decepção."

Os dois não se falam desde a saída de Collor de casa, há sete anos, quando teve início o divórcio litigioso.

A ex-primeira-dama, que se orgulha da lealdade no momento da queda, é crítica quanto à recente proximidade do ex-marido com inimigos históricos. "Política é exatamente isto. É Lula junto com Collor. É Collor junto com Renan Calheiros."

Rosane conta que votou em Dilma, apesar de nunca ter sido eleitora de Lula, "mas, no final, ele conseguiu fazer um bom trabalho". E o escândalo do mensalão? "Houve no [governo] FHC também. Acho que em todos vai acontecer."

Afastada por suspeita de corrupção do posto de presidente da Legião Brasileira de Assistência no governo do ex-marido, Rosane exibe como atestado de idoneidade o fato de ter sido absolvida pelo Supremo Tribunal Federal.

Ela não descarta a possibilidade de voltar a Brasília como deputada federal. Filiada ao Partido Verde, já teve propostas para se candidatar.

"Tá uma coisa de 'stand by'. Já pensou? Fernando no Senado e eu, como federal? Seria uma boa ideia. Tá no horizonte."

Rosane faz mistério sobre o que tem de mais bombástico a revelar em suas memórias. "Vão ter que comprar o livro", desconversa.

O poder da briga entre Fernando e o irmão Pedro, que deu origem à CPI do Collor, vai receber um capítulo. "Eu olho aquilo pelo lado da inveja. Caim matou Abel por inveja. O mundo tá cheio disso. É o final dos tempos."

Caberá ao escritor Fábio Fabrizio Fabretti, que assina biografias de figuras tão díspares quanto Glória Pires e Neusinha Brisola, ser o ghost-writer de uma mulher com sede de justiça.

"Levava vida de rainha. De uma hora pra outra perdi tudo. Não tenho 10% do que eu tinha. Tive que cortar viagens, roupas de grifes, 90% dos supérfluos."

Mora de favor em um imóvel de Collor: um casarão, no estilo colonial, com piscina e amplos jardins, no bairro de Serraria, em Maceió. A residência já teve melhores dias. "Precisa de manutenção, mas tenho que decidir se invisto em mim ou na casa."

Ela tem direito a segurança e motorista. "Bem menos estrutura do que já tive." Diz que o baque material e emocional a levou à lona. "Eu não sabia o que era depressão. Achava frescura até acontecer comigo." Superou a crise sem remédios. "A minha cura foi buscar Jesus."

Crente fervorosa, a companheira do ex-presidente por 22 anos diz que a proteção divina a livrou também da maldição do impeachment, que vitimou Pedro Collor e PC Farias, entre outros. "Eu e a ex-mãe-de-santo do Fernando, a Cecília, somos as únicas que estamos vivas para contar a história porque aceitamos Jesus e somos evangélicas."

O fervor religioso que aparece no discurso e nas citações bíblicas não diminuiu a vaidade. Aos 47 anos, Rosane ganhou músculos definidos em horas de malhação.

Na hora de ir ao culto da missão apostólica Shekinah, ela capricha na maquiagem e no figurino da grife Morena Rosa. A saia e o laço de pedras estampada na blusa verde lhe dão um ar adolescente. "Estou vivendo uma adolescência tardia."

Está sozinha desde que terminou um namoro há quatro meses. Apesar disso, não desistiu da maternidade, mesmo diante do insucesso de dois processos de fertilização quando era casada.

Ela crê que pode ajudar outras mulheres separadas a batalhar pelos seus direitos. Sua função é dar testemunho e encorajar recém-divorciadas. "Deus colocou Rosane na minha vida", diz Selma Rocha, 48, que foi abandonada pelo marido há um ano.

Na primeira fileira do culto da última quarta-feira, Rosane erguia as mãos e dava glória a Deus, sob o incentivo da missionária Maria Tavares, confidente e guru. De bíblia na mão e vestido de oncinha, a morena sorridente profetiza: "Deus vai dar tudo de volta a Rosane. A glória da segunda casa será maior que a da primeira". Rosane diz amém. Ao final do culto, abre a bolsinha Louis Vuitton e oferta R$ 20 para a obra do novo templo.

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