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Análise

Até serviços, os 'vilões' da alta dos preços, sentem queda do consumo

LUIZ ROBERTO CUNHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O IPCA de maio, 0,36%, foi "música para o ouvido" do Banco Central. Esse resultado, junto ao baixo nível de atividade e à continuidade da crise externa, dá espaço para novas reduções da Selic.

Depois do impacto da crise externa em 2009, quando o IPCA ficou um pouco abaixo do centro da meta, em 2010 e 2011 tivemos aceleração da inflação, "puxada" pelo consumo interno e melhora do cenário externo.

Até meados de 2011, alimentação, serviços e vestuário pressionavam, preços administrados não ajudavam, só bens duráveis, com a valorização do real, contribuíam para "segurar" a inflação.

O que mudou na nossa inflação? Inicialmente o BC estava certo quando, há alguns meses, enfatizou como variável importante para a redução da Selic o cenário externo deflacionista.

As perspectivas para o mundo, mesmo que tenhamos novas rodadas de impulsos monetários em EUA, Europa e China, não são favoráveis. Os preços das commodities, mesmo que se recuperem, não voltarão a pressionar como no passado. A atividade interna nos últimos meses ficou muito abaixo do esperado, apesar de emprego e renda continuarem "robustos". O crédito, depois das medidas macroprudenciais, desacelerou, reduzindo a capacidade das empresas de repassar custos e elevar preços.

Assim, alimentos e vestuário apresentam variações bem mais moderadas, e mesmo os serviços, que continuam sendo os "vilões" e tiveram o "impulso" da forte elevação real no salário mínimo, estão sentindo os efeitos de um consumo mais moderado e de uma maior concorrência.

Para completar o quadro, apesar da acentuada desvalorização do câmbio, os setores mais afetados em seus custos tiveram na desaceleração do crédito e no maior comprometimento da renda um forte impacto na demanda, e nos últimos meses, puderam reduzir os preços com os incentivos do IPI.

Para completar a "mudança" no quadro, os preços administrados estão com variação menor, sem aumentos nos ônibus (ano de disputa eleitoral) e com mudanças nas regras de reajuste na energia elétrica e telefonia.

CENTRO DA META

Mas será que vamos convergir para os 4,5% do centro da meta? Em princípio não, a menos que não tenhamos uma recuperação da atividade econômica interna, para a qual o governo vem se empenhando cada vez mais, ou tenhamos um forte agravamento da crise externa, mas aí também as consequências são imprevisíveis...

Assim, a expectativa é de um IPCA "rodando" próximo de 5,0% até o final do ano, com um viés de baixa, dadas as condições internas e externas. Os resultados mensais serão mais baixos em junho e julho, mas apenas compensando os resultados de 2011, e a partir de setembro, no cenário sem agravamento da crise votaremos a taxas mensais um pouco mais altas, mantendo a variação acumulada em torno dos 5,0%.

LUIZ ROBERTO CUNHA é economista e professor da PUC-Rio

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