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Análise

Países latino-americanos revisitam passado sangrento

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A América Latina reencontra seu passado sangrento, de décadas de atrocidades.

O que aconteceu na Guatemala, por exemplo, 31 anos de guerra civil e 200 mil mortos. Foi o primeiro país latino-americano onde, em 1954, a CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos) patrocinou um golpe vinculado à Guerra Fria.

Um dos responsáveis pela matança, Efrain Rios Monti, perdeu a cobertura parlamentar em janeiro (era deputado) e é agora obrigado a responder em tribunal a acusações de genocídio e de crimes contra a humanidade.

O primeiro processo contra ele data de janeiro e envolve 72 "incidentes" com 1.771 mortos. Na época, foi saudado por defensores dos direitos humanos como um acontecimento capaz de derrubar impunidades.

Um segundo processo contra Rios Monti veio a público em maio e envolve o que é conhecido como "o massacre de Los Dos Erres", inscrito na categoria dos genocídios, já que também se tratou de um ato brutal, com os assassinatos de pelo menos 200 guatemaltecos.

Na Argentina, desapareceu a lei de "obediência devida", ou de cumprimento de ordens, uma forma de anistia. Entre os levados a tribunais está um general e ex-ditador que se defende dizendo que era preciso "disciplinar a sociedade".

No Uruguai ao lado, o governo da Frente Ampla, coligação de esquerda que assumiu o poder depois da queda da ditadura, não conseguiu derrubar uma Lei de Anistia. Mas os problemas vêm à tona em meio aos embates envolvendo o que se passou em matéria de violações dos direitos humanos.

Em El Salvador, o presidente, que disse se inspirar no PT brasileiro depois de eleito com a legenda de uma ex-guerrilha transformada em partido político, condenou publicamente o que aconteceu em El Mozote em 1981.

O Exército salvadorenho matou de um só golpe pelo menos mil homens, mulheres e crianças.

Num outro extremo, o presidente Juan Manuel, da Colômbia, pediu desculpas públicas por um massacre em 1999. Pelo menos 50 pessoas foram mortas em ações contra e guerrilha e sem nada ter com ela. Execuções em parte feitas por paramilitares da intimidade do poder.

No Chile, o governo de centro-esquerda pós-Pinochet criou a Comissão da Verdade, modelo afinal também adotado pelo Brasil.

Uma novidade importante é a decisão de um tribunal da Flórida de abrir caminho para a deportação de um general de El Salvador que foi ministro da Defesa de 1983 a 1989. Esteve sob seu comando direto o que ficou conhecida como "infame guarda nacional" e entre suas vítimas estão quatro freiras americanas, mortas na época de comando do general Carlos Eugene Vides Casanova. Foram assassinadas 70 mil pessoas em El Salvador.

NEWTON CARLOS é analista de assuntos internacionais. Escreveu "De Olho no Mundo" (2010), "Bush e a Doutrina das Guerras sem Fim" (2003)

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