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Militares vigiaram Lula durante 15 anos

Relatórios, feitos pela Aeronáutica e pelo SNI de 1976 a 1991, incluem análises sobre atividades do petista e seu partido

Documentos constam de lote divulgado pelo Arquivo Nacional nesta semana; ex-presidente não comenta papéis

RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo da vigilância dos militares da Aeronáutica e do SNI (Serviço Nacional de Informações) ao longo de 15 anos consecutivos, como demonstram documentos abertos nesta semana à consulta pública.

Os mais de 8 milhões de páginas produzidos pelos serviços de informação da ditadura militar (1964-85) e dos governos Sarney e Collor (1985-92), hoje sob a guarda do Arquivo Nacional, em Brasília, incluem 6.129 documentos referentes a Lula.

O petista foi monitorado de 1976 a 1991. Documentos produzidos pelos órgãos que sucederam o SNI, extinto em 1990, ainda não foram liberados para consulta.

Os papéis variam de análises sobre atividades de Lula e do PT a relatos de supostas fontes de constrangimento.

Em 1982, por exemplo, o SNI se preocupou em registrar que um carro oficial da Assembleia Legislativa de São Paulo, um Opala de placas frias, foi usado para dar carona a um parente de Lula que ia a "uma consulta médica". O carro acabou sofrendo um pequeno acidente na rua.

Um dos relatórios mais detalhados sobre Lula descreve um encontro realizado na casa do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, em novembro de 1988, em São Paulo.

Lá estavam, além dos dois, a então prefeita eleita de São Paulo Luiz Erundina e o ex-ministro José Dirceu, dentre outros membros do PT. Uma fotografia divulgada pela Folha um dia depois da reunião confirma os participantes.

Segundo o SNI, nesse encontro o PT definiu que Erundina, assim que tomasse posse, deveria abrir investigações internas com o propósito de "propiciar maior promoção à candidatura de Lula, obstruindo a de Jânio Quadros".

O plano petista, segundo os arapongas, era "criar o maior número de obstáculos jurídicos e morais para Jânio".

"A sequência de inquéritos (...), segundo a estratégia do partido, inviabilizará a candidatura de Jânio", diz o relatório. Na reunião, Erundina teria levantado como prioridade a "estatização" da companhia de ônibus.

Os petistas teriam dito ainda que uma meta era adotar "o modelo de saúde cubano".

Em maio de 1989, cinco meses após a reunião, Erundina deu uma entrevista para apresentar "um dossiê de irregularidades administrativas" na gestão de Quadros.

O relatório não esclarece como o SNI teve acesso a detalhes do encontro, o que levanta hipóteses de uma gravação ambiental ou de um informante na cúpula do PT.

Outros textos sobre Greenhalgh sugerem que o SNI dispunha de acesso privilegiado às conversas dele.

Também havia interesse sobre colegas de Lula nos sindicatos da Grande São Paulo.

Em 18 de janeiro de 1982, um sindicalista ligado a Lula foi visitar parentes no Recife (PE) e teria comentado, "em uma reunião de amigos", que o sindicato recebia recursos financeiros de PT, PMDB, "igreja e Polônia", por meio do sindicato Solidariedade, liderado por Lech Walesa.

Segundo o SNI, o sindicalista disse que outro sindicalista adversário de Lula foi agredido por um grupo de apoiadores do petista.

O último relatório disponível é datado de agosto de 91 e foi produzido pela Aeronáutica no governo Collor (90-1992).O papel registra uma palestra de Lula na Unicamp.

A assessoria do ex-presidente informou que não se manifestaria por não ter conhecimento dos documentos.

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