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Cachoeiragate

Cachoeira esperava ter 'portas abertas' no governo de Goiás

Declaração foi feita pelo empresário dois dias depois da compra da casa que pertencia a governador tucano

Negociação do imóvel é um dos focos da CPI; Marconi Perillo nega que tenha negociado ou favorecido Cachoeira

BRENO COSTA
ANDREZA MATAIS
DE BRASÍLIA
ANDRÉIA SADI
DO PAINEL

Ao comprar uma casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o empresário Carlinhos Cachoeira esperava ter "portas abertas" junto ao tucano.

É o que mostra uma gravação feita pela Polícia Federal em telefonema trocado no dia 3 de março de 2011 entre Cachoeira e o então diretor regional da empresa Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu.

É a primeira vinculação direta entre a venda da casa, um dos alvos da CPI do Cachoeira, e os interesses de Cachoeira e da Delta no governo de Goiás.

Segundo a PF, Cachoeira atuava como "sócio oculto" da empreiteira.

Os áudios também reforçam a suspeita de que Perillo, ao fazer a transação, sabia que o empresário participava do negócio - versão que ele tem negado.

"Wladimir [Garcez, assessor de Cachoeira] fechou com o homem lá, viu? [...] Porque é importante esse trem. Podia queimar não", diz Cachoeira a Abreu no telefonema grampeado pela PF.

"Agora tá com a porta aberta. Toda hora que liga, ele [Perillo] responde em tudo", acrescenta Cachoeira, dando a entender que teria aberto canal direto com o tucano.

Abreu então retruca: "Não adianta nada o governador atender na hora que quer. Precisa ter obras. Eu quero é faturar". Cachoeira o acalma: "Tá tudo aberto".

PAGAMENTO

Em 2011, ano da negociação do imóvel, a empreiteira Delta recebeu do governo de Goiás R$ 48 milhões.

O diálogo acima ocorreu dois dias depois de Perillo ter recebido de Wladimir Garcez, dentro de seu gabinete no Palácio das Esmeraldas, sede da administração goiana, cheques pelo pagamento da casa, no valor de R$ 1,4 milhão.

A conversa faz parte do material bruto das gravações da PF na Operação Monte Carlo, que chegaram nesta semana à CPI do Cachoeira e às quais a Folha teve acesso.

Ainda de acordo com os áudios, Garcez pergunta se Cachoeira quer falar com o governador, durante a entrega dos cheques.

"Tô aqui com o governador e já te ligo. Quer falar com ele?", pergunta Garcez a Cachoeira, às 16h37 do dia 1º de março de 2011, supostamente falando de dentro do gabinete do governador. O empresário responde que não.

Os novos áudios reforçam uma das suspeitas que a CPI tenta comprovar: a de que Cachoeira foi o verdadeiro comprador da casa de Perillo e que outras pessoas que participaram do negócio teriam o objetivo apenas de ocultar o vínculo entre o empresário e o governador.

Na manhã do dia 1º de março, Cachoeira dita para seu sobrinho Leonardo Ramos o nome do governador para que ele preencha três cheques nominais a Perillo.

Leonardo é sócio da Excitant Confecções, empresa em nome da qual foram emitidos os cheques usados na compra da casa.

"(...) Pode ser para amanhã [a data no cheque], mas eu mando isso hoje pra sua conta, entendeu? Três cheques nominais a ele. Depois eu faço o contrato. Marconi Ferreira Perillo Júnior", diz Cachoeira, ditando o nome completo do governador de Goiás.

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