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Análise

2012 já é um ano perdido para o setor industrial

EDUARDO COSTA PINTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Cada vez que o IBGE divulga os resultados da produção industrial mensal os analistas procuram explicações para o novo fundo do poço. Não foi diferente para os dados divulgados ontem. A produção industrial em maio caiu 0,9% em relação ao mês anterior. No acumulado do ano, a queda já é de 3,4% em comparação com o ano passado.

A novidade negativa foi a queda da produção em quase todos os segmentos, com a exceção de bens intermediários. Os setores que mais impactaram negativamente o resultado foram veículos (4,5%) e alimentos (3,4).

Agora, além da redução da produção de bens de capital e de consumo duráveis, houve significativa queda nos bens de consumo semiduráveis e não duráveis (cerca de 25% da indústria).

O governo vem tentando reagir: a redução da Selic, o controle da escalada da apreciação cambial, o Plano Brasil Maior, a desoneração da folha e a redução do IPI mostram a preocupação governamental com a indústria.

Essas medidas ainda não surtiram os efeitos esperados, e dificilmente a indústria irá se recuperar neste ano -mais um ano de estagnação industrial ou até de queda. Elas deverão surtir efeitos positivos nos meses finais de 2012.

O governo adota políticas pontuais sem atacar as questões estruturais. É preciso construir uma política industrial que articule o tripé dinâmica do mercado interno, ampliação dos investimentos em infraestrutura e tecnologia para impulsionar a produtividade da indústria, que caiu 0,9% a.a de 2000 a 2009.Competitividade deveria ser a palavra de ordem do governo. Só o câmbio não resolve.

A única perna desse tripé que está funcionando é a do mercado interno. O investimento em infraestrutura está em ritmo lento em virtude da manutenção do ajuste fiscal e de problemas de gestão do governo. Num cenário atual de crise internacional, o empresário não investe.

É preciso que o governo amplie sua capacidade de investir por meio da flexibilização fiscal temporária (para induzir expectativas empresariais) e por meio da descentralização da gestão pública que parece muito centralizada na figura da presidenta.

O problema é ainda maior quando olhamos a questão tecnológica. Fala-se muito nisso, mas os resultados são inexpressivos. Não há política clara de inovação e tecnologia no Brasil. Basta olhar a situação dos centros de tecnologia e das universidades. Os sinais de longo prazo são preocupantes. A indústria brasileira está em perigo.

EDUARDO COSTA PINTO é professor do IE da UFRJ

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