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10ª festa literária internacional de Paraty

Teju Cole diz ter sofrido preconceito no Brasil

Escritor relatou episódios em que teria sido discriminado por ser negro

Americano de origem nigeriana disse na Casa Folha que imagem de postal não deixa ver quão dividido é o país

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A PARATY (RJ)

O escritor americano Teju Cole, 37, um dos convidados da Flip deste ano, disse ontem em palestra na Casa Folha que foi discriminado em sua atual visita ao país, inclusive em Paraty.

"O Brasil, infelizmente, tem uma imagem de cartão-postal e, mais recentemente, uma imagem de um capitalismo bem-sucedido. É preciso visitar o Brasil para entender quão profundamente dividido ele é", disse o escritor, filho de pais nigerianos.

"A imagem exterior é a de que o Brasil é unido, resolveu seus problemas de raça, mas eu fiquei chocado. Estive no palco principal [da Flip], [havia] uma audiência de centenas, por que era tão branca?"

E seguiu: "Aqui nessa sala, sou provavelmente a pessoa mais negra. Brasil, você está partindo meu coração."

Cole, que havia visitado o Rio há dois anos, narrou dois episódios atuais em que teria sofrido preconceito.

O primeiro foi ao chegar no aeroporto internacional de São Paulo, "acompanhado de dois outros autores americanos convidados, brancos", que ele não quis identificar.

"Alguém do aeroporto me apontou um caminho; meus amigos me seguiram, mas ele disse que só eu precisava ir. Minhas malas passaram por uma vistoria extra. Bem-vindo ao Brasil", contou.

"É claro que essa seleção não foi feita porque alguém olhou meu passaporte."

O outro incidente aconteceu durante a Flip, quando o escritor entrou em um local no centro histórico de Paraty "onde as pessoas estavam indo e vindo livremente".

"Fui perseguido pelo segurança, até que apareceu alguém dizendo 'ele é um dos nossos palestrantes'. Essa é a realidade presente aqui."

Apesar das críticas, ele fez questão de elogiar os brasileiros em geral. "Viajei muito no último ano para divulgar meu trabalho e em poucos lugares as pessoas foram tão afetuosas e interessadas pelo meu livro quanto aqui."

Cole iniciou sua apresentação lendo em português os dois primeiros versos do clássico "No Meio do Caminho", de Drummond, e concluiu o poema em inglês, na versão traduzida por Elizabeth Bishop ("Uma das minhas poetas preferidas", disse).

"Para mim, esse é um poema sobre a epifania, um momento que pode ser transformado em algo para a vida inteira. É isso que se faz quando se escreve um romance, partir de algo simples que pode se tornar memorável."

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