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Todo escritor manipula o leitor, afirma Ian McEwan

Ao lado de Jennifer Egan, britânico fez mesa disputada, mas pálida

No debate que foi a 1º a ter ingressos esgotados, a americana se disse 'fã' do colega, que deu dicas a jovens escritores

FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PARATY (RJ)

Para jovens escritores, como aqueles selecionados na última quinta para a edição brasileira da revista "Granta", ouvir Ian McEwan ontem em Paraty foi esclarecedor.

Primeiro numa entrevista à imprensa, depois num debate com a americana Jennifer Egan, McEwan, um dos principais romancistas da língua inglesa em atividade, expôs suas ideias sobre o trabalho de ficcionista e as vacinas contra armadilhas no caminho até o reconhecimento.

Em 1983, McEwan foi selecionado, junto com Salman Rushdie e Martin Amis, para uma edição da "Granta" com os melhores jovens romancistas britânicos.

Indagado ontem sobre que conselho daria aos brasileiros destacados pela revista, aconselhou: "Não deixe que isso suba à cabeça. É importante o que você continuará a fazer na manhã de quarta-feira. Elimine o ruído dos prêmios, entrevistas, listas".

"Compareça, esteja lá todo dia, não importa se estiver mal, você tem que estar na sua mesa de trabalho todo dia às dez da manhã."

Um dos mais aguardados da décima Flip (os ingressos se esgotaram em minutos), o bate-papo entre McEwan e a Egan, com mediação do jornalista Artur Dapieve, ficou aquém do "frisson" que se criara até ontem.

Diante da plateia que lotava a Tenda dos Autores, os romancistas comentaram o seu processo criativo e elogiaram-se mutuamente. Provocaram aplausos pouco efusivos e risadas idem.

Antes do debate, leram trechos dos livros que lançam agora no Brasil: ''Serena" (Companhia das Letras), no caso dele, e "O Torreão" (Intrínseca), no caso dela.

Os melhores momentos da tarde couberam a McEwan. Ao responder a uma espectadora que perguntara, por escrito, se ele tinha prazer em manipular os leitores (pois ela havia sentido muita raiva ao se sentir manipulada lendo "Reparação"), McEwan disse: "Sim, esse é principal prazer que temos na vida".

Contou ter sido acusado pelo crítico James Wood de ser manipulador. "Então ele só me acusou de ser um romancista", concluiu.

Instado a falar de romances de espionagem, como é de certo modo seu "Serena", McEwan disse que "talvez todos os romances sejam romances de espionagem", no sentido em que ocultar informações é inerente à criação do ficcionista.

Discreta diante do humor sofisticado do colega, Jennifer Egan disse que estava apaixonada pelo Brasil e que era fã de McEwan desde o tempo da faculdade.

Recebeu de volta rasgados elogios do inglês, que disse considerar o conto "Black Box" -escrito por Egan via Twitter para a revista "The New Yorker"- "uma das melhores coisas" que ele havia lido nos últimos anos.

LÍQUIDO

Ao comentar a opção por lançar "Serena" primeiro no Brasil ("uma feliz coincidência, pois eu já confirmara a vinda à Flip"), McEwan mostrou fascínio pelo português brasileiro: "É nasal e líquido ao mesmo tempo, como um vinho tinto muito bem encorpado sendo derramado".

E contou que está mais próximo do Brasil desde que o seu filho, após acompanha-lo à Flip em 2004, se encantou com o país e, ao voltar para a Inglaterra, arranjou uma namorada brasileira e aprendeu português.

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