Texto Anterior
|
Próximo Texto
| Índice | Comunicar Erros
Fliperama
ANTONIO PRATA Alçapão! NÃO SEI como é na botânica, na engenharia hidráulica ou no ramo dos pet-shops, mas na escrita dá muito mala. Uns sujeitos emburrados, blasés, que pensam que estar diante de 800 pessoas que dirigiram centenas de quilômetros e pagaram R$ 40 para vê-los não é razão suficiente para responder educadamente às perguntas que lhes fazem. Pensando nestas flores que, vira e mexe, aparecem na Flip, sugeri ano passado, neste espaço, que a organização construísse sob a poltrona dos escritores um alçapão. Se 50% do público mais um apertassem um botão instalado no receptor de seus fones, o autor seria engolido pelo palco e cuspido numa pousada duas estrelas no centro de Caraguatatuba, com uma sacola plástica contendo uma bananinha (sem açúcar), uma Fanta Uva (sem gelo), o dinheiro justo para pegar um ônibus para SP e o Troféu Alçapão, em Durepox e bambu, produzido após concorrência entre os hippies paratienses. Ano passado, o troféu foi pro francês Claude Lanzmann, que só faltou cuspir no mediador. 2012, contudo, foi um ano bom: ainda é cedo para comemorar, mas, ao que parece, se o alçapão estivesse em uso, não teria sido acionado. Uma modalidade mais suave de admoestação, porém -eletrochoques no microfone?-, talvez cou-besse a Jonathan Frazen. Diante de cada pergunta, o grande romancista americano fazia caras de dor e desespero, como se não estivesse falando de sua obra a leitores curiosos, mas tentando explicar a um médico as sensações causadas por ataques simultâneos de apendicite e pedra nos rins. Pese, em sua defesa, que a reação parecia brotar mais da timidez do que da arrogância, mas que trouxe à parte do público a vaga desconfiança de que a palestra era o preço que o escritor estava pagando pela chance de ver passarinhos num país exótico, isso trouxe. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |