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Cachoeiragate

Senado cassa Demóstenes, e CPI tende a perder força

Punição, aplicada por 56 votos contra 19, deixa senador inelegível até 2027

Congressistas avaliam que cobrança pública agora deve arrefecer e que recesso e eleições vão esfriar comissão

Alan Marques/Folhapress
Demóstenes e seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, observam painel eletrônico momentos antes da divulgação do resultado
Demóstenes e seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, observam painel eletrônico momentos antes da divulgação do resultado

DE BRASÍLIA

O Senado cassou ontem por 56 votos contra 19 o mandato de Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), acusado de mentir sobre suas relações com Carlos Cachoeira e de usar o cargo para beneficiar o empresário, preso por suspeita de chefiar um esquema de corrupção.

Foi a segunda vez em 188 anos que a Casa decretou a perda do mandato de um senador por quebra de decoro.

A decisão, feita em sessão aberta e por voto secreto, deixa Demóstenes inelegível até 2027, oito anos após o fim de seu mandato.

Após o resultado, o agora ex-senador escreveu no Twitter que a "esquerda" lhe retirou o mandato e que vai recuperá-lo no Supremo Tribunal Federal.

Seu advogado, entretanto, disse que discorda. "Para mim, a decisão do Senado é soberana", afirmou Antonio Carlos de Almeida Castro.

Apesar de representar a primeira punição formal no caso Cachoeira, líderes do Congresso avaliam que a CPI tende a perder força -salvo futuras revelações.

Isso porque, dizem, a pressão da opinião pública por punição deverá se reduzir. Além disso, na semana que vem o Congresso entra em recesso. E, em agosto, volta esvaziado devido às eleições.

INFLUÊNCIA

O placar refletiu o isolamento do ex-líder do DEM (ele teve 15 votos acima do necessário para a cassação), cuja passagem no Senado foi marcada pelo ataque a colegas por outros escândalos.

Na sessão que selou seu destino, nenhum colega usou a palavra para defendê-lo.

Ele terminou com quatro votos contrários a mais do que os recebidos por Luiz Estevão (PMDB-DF), até então o único cassado, em 2000.

Cinco senadores se abstiveram e apenas um, Clovis Fecury (DEM-MA), não foi à sessão -tirou licença para "assuntos pessoais".

"Um parlamentar precisa defender o interesse público, buscar o bem comum e evitar a sedução pelo interesse privado. Quem julga somos nós. Mas quem condena sua excelência é o seu passado", disse Humberto Costa (PT-PE), relator do processo de cassação no Conselho de Ética.

"A voz rouca da democracia vai dizer que valeu a pena", afirmou

Até o final, o senador tentou convencer os colegas que não mentiu sobre suas relações com Cachoeira, do qual disse ser apenas um amigo. "Se Carlos Cachoeira cometeu crimes, cana nele, a culpa é dele", discursou.

O ex-líder do DEM comparou-se a um "cão sarnento" e reclamou de ter sido chamado de "despachante de luxo e braço político" de Cachoeira. "Como me defender disso? É como acusar uma mulher de vagabunda."

Citou que Humberto Costa já foi acusado de envolvimento com corrupção, mas foi inocentado pela Justiça. E pediu isonomia.

A sessão durou 3 horas e 14 minutos. "Julgar companheiros não faz bem à alma", afirmou o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que escapou da cassação em 2007.

Demóstenes perde o foro privilegiado no STF, onde suas relações com Cachoeira eram investigadas. O inquérito passa a tramitar no Tribunal de Justiça de Goiás, onde ele, como procurador de Justiça (cargo ao qual deve voltar), tem foro.

"É página virada", disse o presidente da Casa, José Sarney.

(GABRIELA GUERREIRO, ANDREZA MATAIS, FILIPE COUTINHO, ERICH DECAT, BRENO COSTA E MATHEUS LEITÃO)

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