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Análise

Uma nova oposição surge dentro do bloco governista

VITOR MARCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O debate sobre os efeitos que as estratégias políticas nacionais produzem sobre a competição eleitoral local avançaram bastante no país, e há sinais de que as decisões tomadas na construção do presidencialismo de coalizão têm impacto sobre as estratégias de aliança nas eleições estaduais e municipais.

Certamente as eleições estaduais refletem mais essa orientação do que as eleições municipais: é muito mais comum, por exemplo, encontrar uma aliança entre PT e PSDB numa eleição para prefeito do que para governador. De qualquer maneira, a coalizão formada para governar o país estaria, cada vez mais, definindo as estratégias eleitorais nas disputas municipais. Uma perspectiva mais otimista poderia até afirmar que tal tendência revelaria algum grau de amadurecimento das instituições políticas, consolidando estratégias e definindo um grau maior de racionalidade ao sistema.

O ponto crítico é que as coalizões nacionais precisam ser muito amplas para garantir algum suporte à agenda do governo federal, que não raras vezes precisa passar por questões constitucionais. Assim, é natural que trabalhemos com cenários em que é larga a base do governo, e pequena a base da oposição.

É preciso destacar porém que, quanto mais ampla for a coalizão nacional, maior será seu potencial de dispersão, pois ela acaba incorporando forças políticas das mais diversas orientações. Daí que afirmar que a coligação governista permite a aprovação de uma agenda nacional não é o mesmo que afirmar que há coesão nessa coalizão.

Por esse motivo, comparar as candidaturas municipais tomando por base o critério dicotômico de situação versus oposição pode camuflar algumas divisões internas nessa relação. Dispersões que são corrigidas na arena parlamentar podem não ser contidas na arena eleitoral.

Em suma, podemos dizer que a atração que o governo exerce sobre os partidos é forte e que pode reduzir o fôlego dos partidos de oposição.

Isso não significa, porém, que o bloco situacionista é coeso. Tanto é assim que há sinais de que uma nova oposição possa ser engendrada dentro dos próprios quadros situacionistas -como parece ser o caso do PSD e do PSB.

VITOR MARCHETTI é doutor em ciência política e professor da UFABC

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