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Questões de Ordem

MARCELO COELHO - coelhofsp@uol.com.br

Na moral

Dinheiro do PT era para pagar defesa de Ronivon Santiago, diz defensor de pepista

QUEM ACHA que o mensalão foi uma farsa, feita para desmoralizar o PT, deveria prestar atenção no que disse Marcelo Leal, advogado de Pedro Corrêa (deputado do PP na época), na quinta-feira.

Ele segue a linha geral da defesa: não houve compra de votos de deputados, mas apenas transferência de recursos de campanha, feitos em função de um acordo político entre o PP e o PT.

Houve dois tipos de transferência de dinheiro. O primeiro tipo, feito através da corretora Bônus Banval, destinou-se aos gastos das candidaturas do PP na disputa por prefeituras do norte do Paraná, nas eleições de 2004.

O segundo tipo envolveu dinheiro em espécie, cerca de R$ 400 mil (menos do que afirma a acusação). Correspondiam aos honorários de um advogado -o qual fazia a defesa do célebre deputado Ronivon Santiago, na época ameaçado de cassação, o que terminou acontecendo.

Diz Marcelo Leal que era tradição do PP pagar despesas de advogados quando seus deputados entravam em dificuldades. Antes da campanha municipal de 2004, prossegue a defesa, PP e PT fizeram tratativas para estender às eleições daquele ano a aliança que já existia no plano nacional.

O maior empecilho para essa aliança era o Acre. Lá, na disputa presidencial de 2002, Ronivon Santiago fizera campanha para José Serra. Com isso, segue Marcelo Leal, houve acirramento de ânimos.

O PT fez cair sobre Ronivon uma "enxurrada de denúncias". Que fazer agora, em 2004, quando PP e PT queriam aliar-se? Marcelo Leal conta que uma solução cogitada seria o PT retirar as acusações contra Ronivon, mas estas já corriam na Justiça.

Decidiu-se então que o PT ajudaria a pagar o advogado do pepista. Era o acordo, para isso foi dado o dinheiro!

O bom militante do PT poderá sentir-se então aliviado: o mensalão foi uma farsa. O dinheiro, que se diz destinado a pagar deputados para votar projetos importantes, teve uso mais lícito: pagar a defesa de Ronivon Santiago.

GENOINO

Em coluna anterior, comentei os argumentos de Luiz Fernando Pacheco, advogado de José Genoino. Na sua sustentação oral, ele atacava a tese da "responsabilidade objetiva", ou seja, a prática medieval de acusar alguém pelo que é, e não pelo que fez.

Escrevi que Genoino não estava sendo acusado apenas por ser presidente do PT na época do mensalão, mas por ter assinado, junto com Delúbio Soares, o contrato de empréstimo de seu partido com o Banco Rural.

A defesa de José Genoino me enviou o seguinte esclarecimento.

"Foram dois contratos. Os contratos espelham a realidade. Tanto não paira dúvida sobre a realidade dos empréstimos que o Procurador-Geral da República, em sua denúncia, não os classificou como ideologicamente falsos.

Ambos foram devidamente registrados na contabilidade do PT. Ambos foram declarados ao TSE, na prestação de contas do partido. Os contratos foram cobrados ao PT pela instituição financeira. O PT e os avalistas dos contratos foram cobrados judicialmente, tendo, inclusive, no curso do processo, tido suas contas bloqueadas.

Os contratos, após acordo firmado entre o PT e os bancos, foram parcelados e devidamente quitados em cinco anos. Não há qualquer irregularidade e Genoino não foi denunciado por conta deles."

Por falar em advogados, Alberto Zacharias Toron foi mesmo "confuso" (como ele admite) ao defender João Paulo Cunha no julgamento do mensalão.

Deu claramente a entender -e assim esta coluna reproduziu seu raciocínio- que o tucano Aécio Neves, quando presidente da Câmara, também tinha contratado os serviços da empresa IFT. Portanto, seria injusto acusar João Paulo Cunha de alguma tramoia particular com a IFT: Aécio também recorrera aos serviços da empresa.

No dia seguinte, Aécio contestou: não contratou a IFT. Toron reconhece que foi "confuso". E esclarece: "a IFT prestou serviços unicamente na gestão João Paulo Cunha, mas a primeira agência a contratá-la foi a Denison, que vinha do período Aécio Neves".

Desentenda-se o que fora entendido.

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