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Mensalão - o julgamento

Mensalão foi ordenado por Lula, diz defesa de Jefferson

Advogado afirma que ex-presidente só não é réu devido a falhas da Procuradoria

Declaração dada ao STF destoa do discurso do petebista, para quem Lula nada sabia; petista não se manifestou

André Borges/Folhapress
Observado pelos ministros Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes e Celso de Mello, o advogado Luiz Corrêa Barbosa defende Roberto Jefferson, no STF
Observado pelos ministros Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes e Celso de Mello, o advogado Luiz Corrêa Barbosa defende Roberto Jefferson, no STF

DE BRASÍLIA

Sob o argumento de que Lula teria de ser um "pateta" ou um "deficiente" para não saber da existência do mensalão, a defesa do presidente do PTB, Roberto Jefferson, afirmou que o petista foi o mandante do esquema e que só não está entre os investigados pois o Ministério Público "não fez o seu trabalho".

As declarações do advogado Luiz Corrêa Barbosa dadas ontem no oitavo dia de julgamento do caso, no Supremo Tribunal Federal, contrastam com a versão de seu cliente.

Desde 2005, quando revelou o esquema em entrevista à Folha, Jefferson diz que Lula não sabia de nada.

Para criticar o trabalho do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o advogado citou o fato de três ex-ministros de Lula estarem na acusação, entre eles José Dirceu (Casa Civil).

"É claro que sua excelência [o procurador-geral] não pode aqui afirmar que o presidente da República fosse um pateta, fosse um deficiente, que sob suas barbas, estando acontecendo essas tenebrosas transações atribuídas àquele ministro da Casa Civil [Dirceu], ele não sabia de nada", disse.

Segundo Barbosa, Lula é "safo" (esperto): "Não só sabia, digo eu, como ordenou o desencadeamento de tudo isso. Aqueles ministros eram apenas executivos dele".

Jefferson, que foi cassado na Câmara pelo caso, é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A acusação diz que ele recebeu mais de R$ 4 milhões do PT em 2004 para apoiar o governo.

O advogado diz que o dinheiro era para pagar despesas de campanhas. Segundo ele, A Procuradoria tornou Jefferson réu com o objetivo de silenciar o delator do esquema: "Para [ele] não abrir sua boca enorme."

Sobre Lula, Barbosa afirmou que tinha evidências de sua participação.

Citou decreto assinado pelo ex-presidente em 2004 criando condições para que todas as instituições financeiras passassem a operar com crédito consignado.

Segundo ele, a medida foi tomada para beneficiar os bancos BMG e Rural, em troca de empréstimos ao PT.

Fora do plenário do STF, o advogado disse que o fato de Lula não ser réu se deve à "lesmice" do procurador.

A reabertura de investigações sobre o ex-presidente, pedida ontem por Barbosa, já foi negada em 2011 pela corte, por unanimidade.

Sobre divergências entre sua versão e a de seu cliente, Barbosa disse que não se trata de contradição. "Ele tem que falar sobre o que ele viveu e apurou ou teve a impressão. Eu, defensor, tenho que fazer minha diligência no sentido de iluminar o fato."

A assessoria de Lula disse que ele não se manifestaria. O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto, chamou o advogado de "desqualificado".

(FELIPE SELIGMAN, FLÁVIO FERREIRA, MÁRCIO FALCÃO, NÁDIA GUERLENDA e RUBENS VALENTE)

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