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Elio Gaspari

A privataria arruina a Biblioteca Nacional

A BN é uma instituição secular que precisa de trato, cadeia de fast-books é outra coisa

Biblioteca, como diz o nome, é um lugar onde se guardam livros catalogados, acessíveis ao público.

No caso da Biblioteca Nacional, um transeunte que entra no prédio para sapear o catálogo precisa deixar até os cadernos na portaria. Caneta não entra, só lápis preto.

Se alguém for à página da BN na internet, terá à mão um catálogo de 576 mil obras, apesar de o acervo ser de pelo menos 2 milhões.

Mais, nas palavras do seu Relatório de Gestão: "Para evitar sobrecarga (da rede elétrica), não é permitido aos leitores utilizar carregadores para equipamentos como computadores, gravadores e assemelhados".

Neste ano, em duas ocasiões, vazamentos do sistema de ar refrigerado inundaram áreas em vários andares, formando poças com até 10 centímetros de profundidade.

Há estantes que dão choque, sua fachada centenária solta pedaços e tapumes protegem os pedestres.

Funcionários da instituição fizeram uma manifestação na sua escadaria celebrando "o aniversário das baratas que infestam o prédio, com destaque para seu 'berçário', no quinto andar; das pragas que gostam muito de papel; brocas, traças e cupins" bem como "dos ratos do primeiro andar".

Nesse cenário de real ruína, ressurge a cantilena: faltam recursos. Coisa nenhuma. O governo da doutora Dilma e a administração do companheiro Galeno Amorim, atual diretor da BN, botam dinheiro da Viúva em coisas que nada têm a ver com a tarefa de guardar, catalogar e tornar acessíveis os livros.

Em 2011, o Orçamento deu à BN R$ 30,1 milhões para gastos sem relação com pessoal e encargos. De outras fontes públicas, para diversas finalidades, recebeu mais R$ 63,4 milhões.

A digitalização dos sacrossantos Anais da BN parou em 1997, mas ela gastou alguns milhões em coedições, no patrocínio de traduções (inclusive para o croata) e na manutenção de um Circuito Nacional de Feiras do Livro. Colocou R$ 16,7 milhões num programa de compra e distribuição de livros populares, ao preço máximo de R$ 10 para distribuí-los pelo país afora. (Quem achou que por R$ 10 compram-se também estoques de livros encalhados ganha uma passagem de ida e volta a Paris.)

A criação de um polo de irradiação editorial pode ser uma boa ideia, mas essa não é a atribuição da Casa. Mercado de livros é coisa privada, biblioteca é coisa pública. Se ela não tivesse ratos no primeiro andar, baratas em todos, estantes que dão choque e um catálogo eletrônico mixuruca, poderia entrar no que quisesse, até mesmo na exploração do pré-sal.

Se Galeno Amorim pode revolucionar o mundo editorial brasileiro, a doutora Dilma deveria criar o Programa do Livro Companheiro, o Prolico. Nomeando-o para lá, deixaria a Biblioteca Nacional para quem pudesse cuidar dela.

DECEPÇÃO

O comissariado se enfureceu com alguns votos de ministros do Supremo. Estavam certos de que haviam combinado tudo.

GREVE DO ADAMS

Na quinta-feira, por decisão de 88% dos participantes de uma assembleia, os auditores da Receita Federal decidiram continuar em greve. O acordo oferecido pelo governo havia sido rejeitado pela maioria dos diretores de sindicato.

Deve-se agradecer esse resultado aos çábios do Planalto e ao advogado-geral da União, Luis Inácio Adams. Há um mês, eles decidiram baixar um ucasse permitindo a substituição dos grevistas por funcionários de outras repartições.

Até então, a greve, que não tinha a simpatia do sindicato, estava fraca. A ameaça espalhou o fogo. Pior: nenhum grevista foi substituído. O ucasse era delírio de poder. Não se pode saber como essa greve terminará, mas Adams ajudou bastante.

FESTINHA

A área de gás e energia da Petrobras está convidando empresas interessadas na organização da sua festa de fim de ano, no salão Nobre e no Golden Room do Copacabana Palace, com direito a "jantar volante" para 230 convidados.

Estima-se que a boca-livre custe R$ 1.500 por pessoa. Considerando-se que a fornecedora de promoções e eventos da Biblioteca Nacional faturou cerca de R$ 1 milhão em 2011, pode até ser coisa de pobre.

ARTES DE BRITTO

Poucas vezes um presidente do Superior Tribunal Federal costurou consensos com a habilidade do ministro Carlos Ayres Britto.

Um ministro garante que já o viu tirar a meia sem tirar o sapato.

EREMILDO, O IDIOTA

Eremildo é um idiota e acha que se faz injustiça aos advogados de defesa dos réus do mensalão quando se criticam suas gargalhadas públicas.

Ele acha que os doutores riem lembrando o tamanho dos honorários que receberão.

PELO EM OVO

A compulsão dos governos para mentir mesmo quando isso não é necessário contaminou a cena da execução de Osama bin Laden.

A história segundo a qual os Seals entraram no quarto onde ele estava e fuzilaram-no antes que alcançasse sua AK-47 era lorota.

Matt Bissonette, um militar que estava na missão, contou em "Não Há Dia Fácil" (a partir de terça-feira nas livrarias) que o terrorista foi alvejado depois de espreitar um corredor, a cena de saloon foi inventada e as duas armas encontradas no quarto estavam descarregadas.

A lorota está sendo usada para atrapalhar a vida do companheiro Obama.

O terrorista Bin Laden não foi executado como Che Guevara, horas depois de capturado. Ademais, quem se responsabilizaria se ele detonasse bombas espalhadas pela casa?

(Em 2009, a nata de uma base secreta da CIA no Afeganistão se reuniu para receber um agente jordaniano. Ele saiu do carro, enfiou a mão na túnica e explodiu-se, levando sete consigo.)

Uma missão tipo James Bond, destinada a resgatar os americanos sequestrados na embaixada em Teerã acabou em fracasso em 1980 e custou a reeleição de Jimmy Carter. Por coincidência, ambas começaram com um desastre de helicóptero. Felizmente, a missão de Abbottabad acabou bem.

O FANTASMA DE BUZAID RONDA PERTENCE

A doutora Dilma soltou em cima do ex-ministro Sepúlveda Pertence, presidente da Comissão de Ética da Presidência, o fantasma do professor Alfredo Buzaid, que presidiu a Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana durante a ditadura.

A Comissão de Pertence não funciona porque, com cinco vagas abertas, falta-lhe quorum. A de Buzaid sempre teve quorum, mas não funcionava porque isso não interessava ao governo, nem ao doutor.

Não é justo que essa confusão aconteça logo com Pertence, um ex-ministro do Supremo. Ao tempo de Buzaid, ele estava do outro lado do DOI-Codi.

De duas uma, ou a doutora não quer que haja uma Comissão de Ética na sua Presidência, ou não conhece pessoas à altura da nomeação. Com o julgamento do mensalão, surgiram dois nomes, um para cada gosto: ela pode indicar Cezar Peluso ou João Paulo Cunha.

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