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Janio de Freitas

É muito maior

Variedade de dissimulações do Banco Rural fortalece a suspeita de que o mensalão é apenas parte do sistema

A variedade de dissimulações utilizadas pelo Banco Rural para repasses de dinheiro, como consta da apuração detalhada pelo ministro-relator Joaquim Barbosa, fortalece a suspeita, mantida sob silêncio, de que o chamado mensalão é apenas parte do sistema posto em prática por dirigentes do banco com Marcos Valério.

Convém lembrar, a propósito, a insinuosa, mas inconcluída informação do delegado Zampronha de que "o mensalão é muito maior". Zampronha conduziu as investigações da Polícia Federal.

Faz falta a comparação entre o dinheiro saído do Banco Rural de modo dissimulado ou suspeito e, de outra parte, o empregado com fins políticos de 1998, início das operações Valério/Rural, às acusações públicas de Roberto Jefferson.

Não é certo que as quantidades se equivalham.

E qualquer diferença, embora sem alterar o caso mensalão, indicaria outra face de descaminhos financeiros.

Pela mesma razão, faz falta uma pesquisa sobre as causas do movimento patrimonial, naquele período, de todos os não políticos que poderiam se beneficiar, também, do movimento financeiro chamado mensalão ou, sem participação política, do mesmo método.

A possibilidade de que uma prática servisse à outra não é desprezível. E isso ficou bastante claro na exposição das dissimulações técnicas feita pelo ministro Joaquim Barbosa, feita só para acusação aos envolvidos no atual julgamento.

NÃO SÓ INDEVIDA

A Anatel, Agência Nacional de Telecomunicações, existe sobretudo para não esquecermos as ordinarices na privatização da telefonia. A agência facilita e protege as ordinarices das teles. Foi louvada em muitos artigos a penalidade que a Anatel aplicou à Oi: não cobrar telefonemas de aparelhos públicos, até fim de outubro, em 2.020 municípios. A causa foi o não cumprimento do Plano de Revitalização da Telefonia Pública.

Eis a penalidade verdadeira: a Oi ficou obrigada a não cobrar os serviços que não se interessa por cobrar. Com a vulgarização do celular, o custo de reposição dos aparelhos públicos quebrados, quase sempre por vandalismo, tornou-se desinteressante.

Manchete de primeira página do "Globo" de ontem: "Telefonia em xeque - Queixas contra operadoras de celular somam 843 mil" (neste ano). No subtítulo: segundo a Anatel, "42% das reclamações são de cobrança indevida". Mas cobrança indevida sistemática é uma forma de trapaça equivalente a furto e estelionato. Na quantidade em que chegam a justificar a trabalheira da queixa, as cobranças não deixam dúvida de como são vistas nas empresas. E na Anatel.

Outro exemplo. Telefones, em determinada rua do Rio, deixam de funcionar de repente. O pedido de reparo tem a mais debochada recepção: o cliente quer reclamar do mau serviço e é obrigado a ouvir anúncio de outras pretensas atividades vendidas pela Oi. Como o prazo regulamentar para reparo é de 24 horas, afinal informa-se que estará feito até o dia seguinte.

Se alguém na Anatel tiver curiosidade, pode buscar na Oi a gravação nº 22.121.128.208.244. A senha é assim longa para o cliente, que nem a espera, desistir de anotá-la. Não adianta mesmo. Os telefones do caso aguardam há sete dias o reparo nas tais 24 horas fixadas pela Anatel. Mas os dirigentes da Oi não aguardam nada para continuar engolfando cobranças indevidas, com outras telefônicas.

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