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Afinal de contas

MARCELO SOARES - folha.com/afinaldecontas

É a região, não a religião

Pesam mais para o eleitor as preocupações com o consumo de política pública do que as alianças

O MEIO político vem esquadrinhando o quadro religioso de São Paulo para compreender as razões do crescimento de Celso Russomanno (PRB) nas pesquisas. Ao Censo, mais da metade dos paulistanos se declarou católica, enquanto o candidato tem o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus.

Observando as pesquisas, porém, aparentemente isso tem pouco peso na intenção de voto; ela varia mais de acordo com a região do que com a religião.

Sim, Russomanno tem proporcionalmente mais apoio entre os pentecostais (45%) do que entre os católicos (35%), mas o grupo dos evangélicos é pequeno. Mais da metade das suas intenções de voto vem de católicos, segundo o Datafolha.

Embora o apoio dos católicos, que já foi maior, tenha reduzido depois da "guerra santa" da semana passada, Russomanno continua tendo menos rejeição do que José Serra (PSDB) ou Fernando Haddad (PT) em todas as religiões.

O candidato tem mais força nas regiões que mais dependem dos serviços públicos de transporte e saúde, onde o morador percebe problemas em sua relação de consumo com a cidade. E aí entra o apoio do braço televisivo da Universal.

Antes da campanha, o candidato fazia suas performances pró-consumidor na TV e em parte dos ônibus da cidade. Nos coletivos, aparecia como repórter da Record (em longas matérias, de até 15 minutos) e como presidente do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor.

Segundo a SPTrans (que gere o transporte coletivo), pouco mais de mil dos 15 mil ônibus da cidade têm telas de publicidade, divididas entre três empresas. Só uma passava os vídeos para espectadores ensardinhados em ônibus atrasados.

É difícil medir a influência dessa exposição, mas por meses Russomanno teve mais visibilidade positiva do que outros candidatos numa questão relevante para um eleitor cada vez mais consciente da importância de ser bem atendido nos produtos e serviços que consome.

Talvez a chave do enigma de Celso Russomanno esteja no "DNA Paulistano", publicado todo domingo pela Folha, que revela os problemas que preocupam o morador de cada região da cidade.

Na zona norte, onde Russomanno tem 34% das intenções, a grande queixa é o trânsito.

Na zona leste, onde ele conta com 41% do apoio, e na parte mais modesta da zona sul (37%), o que incomoda é a violência.

Para esses eleitores, os problemas que enfrentam diariamente no "consumo" da cidade possivelmente pesam mais do que as biografias ou as companhias dos candidatos -mote dos principais ataques entre tucanos e petistas e das críticas ao peerrebista. Afinal, todos eles têm aliados polêmicos nas coligações. Aliados que antes já estiveram ao lado dos hoje oponentes, também.

Ao desviar desse foco em aparições públicas e debates e se apresentar, como faz no Twitter, como alguém que "apanha por defender o cidadão", o candidato ocupa de maneira rasa, mas com quase exclusividade, um espaço que os seus concorrentes estão ocupados demais -fazendo política- para ocupar com política pública.

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