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Análise Eleições 2012

Russomanno combina protesto e tradição

Candidato parece a resposta para eleitores que, apesar da inclinação conservadora, desejam mudanças na cidade

MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

Passada a surpresa inicial, a liderança persistente de Celso Russomanno (PRB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo já encontrou diversas tentativas de explicação.

De subproduto do lulismo a patrulheiro da nova classe média, passando pela figura do anti-Kassab, todas as teses encontram fundamento. Mas são poucos os dados utilizados para ilustrá-las. A pesquisa divulgada hoje pela Folha permite que uma dessas teorias seja testada.

O argumento de que certo conservadorismo paulistano sustentaria uma candidatura com as características como a de Russomanno fora ventilado recentemente. Mas quanto, de fato, a população da capital é conservadora?

E seria o candidato do PRB o nome com melhor desempenho nesses estratos do eleitorado? Qual candidatura, então, poderia se destacar nos segmentos mais liberais?

Levantamentos anteriores realizados pelo Datafolha em eleições para prefeito de São Paulo revelaram que o paulistano pende politicamente à direita e que só rompe com a tradição para protestar.

Mas a autoclassificação baseada apenas no espectro político é limitadora para dividir os eleitores segundo o grau de conservadorismo.

A alternativa adotada pelo Datafolha foi inspirada em escalas internacionais de classificação do nível de conservadorismo dos eleitores por meio da opinião em relação a temas polêmicos. Como referência, adaptou se à realidade paulistana a tipologia política usada pelo Pew Research Center para qualificação do voto norte-americano.

Com base nas respostas do eleitor a uma bateria de perguntas sobre assuntos como homossexualismo, posse de armas, pena de morte, imigração, pobreza, drogas, criminalidade, religião e sindicalismo, o Datafolha dividiu a população em cinco grupos. A conclusão é que os eleitores que tendem ao conservadorismo chegam a 44%, sendo que 10% se mostram extremamente conservadores. No lado oposto, demonstram posturas mais liberais 33% dos paulistanos, sendo que 6% se revelam muito liberais. Compõem um grupo intermediário 23% dos entrevistados.

Os que se enquadram no grupo de extremo conservadorismo são mais velhos e menos escolarizados, e residem, acima da média, nos bairros da zona leste mais próximos ao centro. Nesse segmento, 90% concordam, por exemplo, que a maior causa da criminalidade é a maldade das pessoas, e 66% acham que boa parte da pobreza está ligada à preguiça.

É nesse conjunto de eleitores que José Serra (PSDB) obtém seu melhor desempenho na corrida à Prefeitura e onde Fernando Haddad (PT) encontra sua maior rejeição.

No extremo oposto da escala, entre os muito liberais, estão os mais jovens, mais escolarizados e moradores da zona oeste acima da média. Nesse segmento, Haddad alcança a liderança, Soninha Francine (PPS) salta para dois dígitos e Carlos Giannazi (PSOL) chega a 6%. Serra é rejeitado por 51% desse estrato e Russomanno, por 42%.

Mais de 90% dos que integram o grupo concordam que a maior causa da criminalidade, assim como da pobreza, é a falta de oportunidades iguais para todas as pessoas.

Por sua vez, Russomanno lidera em 4 dos 5 grupos de classificação e apresenta bom desempenho também entre os liberais, mas sua taxa de intenção de voto só fica acima da média entre os conservadores.

A cobertura abrangente explica a liderança folgada de uma candidatura que até aqui conseguiu convencer os que demandam mudanças sem negar a inclinação conservadora do paulistano.

Em ambiente dominado pela insatisfação, em busca do anti-Kassab, os eleitores parecem ter encontrado um candidato que lhes assegura a combinação perfeita entre protesto e tradição.

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