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Mensalão - o julgamento

Relator acusa revisor de fazer 'vista grossa'

Lewandowski rebate e afirma que Barbosa não admite 'controvérsia' na sessão mais tensa do julgamento até agora

Clima pesado faz com que demais membros da corte intervenham; Marco Aurélio pede respeito ao Supremo

DE BRASÍLIA

Na mais tensa sessão do julgamento do mensalão até agora, os ministros do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, relator e revisor do caso, protagonizaram ontem embates com troca de acusações, críticas ao trabalho do outro e comentários irônicos sobre análise de provas.

Ontem, Lewandowski continuou a ler seu voto.

Barbosa chegou a dizer que os ministros não podiam fazer "vistas grossas" ao processo, provocando a reação de outros colegas.

"Vossa Excelência não admite a controvérsia", disse Lewandowski, que questionou se Barbosa queria "eliminar" a figura do revisor.

A discussão começou quando Lewandowski tratava das acusações contra o ex-deputado José Borba. Barbosa, então, pediu ao colega que distribuísse o voto antes para facilitar a análise.

Contrariado, Lewandowski reagiu: "Quem quiser ouvir meu voto deve estar aqui no plenário prestando atenção".

Ele se referia ao fato de Barbosa acompanhar parte das sessões fora do plenário por causa de dores na coluna.

Em resposta, Barbosa disse que ficava difícil seguir os "textos longos" do colega.

Quando Lewandowski votava pela absolvição de um ex-dirigente do PTB, Barbosa disse que os ministros não podiam fazer "vistas grossas" aos autos. Foi repreendido por Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e pelo presidente Carlos Ayres Britto.

O primeiro criticou a "agressividade do relator", pediu para ele "policiar suas palavras" e respeitar o STF.

O clima ruim evidencia, mais uma vez, a desgastada relação entre o revisor e o relator, que já discutiram publicamente outras três vezes no julgamento. As divergências começaram no primeiro semestre, quando Lewandowski se sentiu pressionado a liberar seu voto. Depois, ele reclamou da forma de votação escolhida por Barbosa.

Apesar de apelos ontem, as farpas continuaram até o fim, quando Barbosa riu das interpretações do revisor. "Não estou entendendo a ironia de Vossa Excelência", disse Lewandowski. "Vamos dizer as coisas tais com elas são, ministro", afirmou o relator.

Em outro momento, Lewandowski, para absolver um réu da acusação de lavagem de dinheiro, citou um exemplo do sujeito que gasta o dinheiro em um "happy hour". Luiz Fux respondeu: "Não estamos no happy hour". Ao que o revisor finalizou: "Estamos em uma "sad hour", uma hora triste".

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