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Profissão nanico

No comando de partidos bancados por recursos públicos, Levy Fidelix e Eymael acumulam eleições frustradas

FABIO LEITE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Manhã da última sexta-feira, reta final de campanha.

O corpo a corpo com eleitores seria na Ceagesp, companhia de armazéns na zona oeste da capital paulista.

Mas ele não apareceu.

Levy Fidelix, 60, estava em Brasília. O dono do nanico PRTB havia ido a uma audiência no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre a briga judicial com a TV Globo pelo direito de participar do debate de candidatos a prefeito, previsto para quinta-feira.

A emissora quer o programa só com os seis mais bem colocados nas pesquisas. Ele não está na lista -na última sondagem do Datafolha, nem pontuou. A decisão sai hoje.

Não foi por falta de experiência eleitoral que Fidelix "furou" a agenda. E não será o debate que vai alterar um histórico de resultados pífios.

Desde que fundou o PRTB, em 1994, o pai do "aerotrem" acumula sete candidaturas e só 27.279 votos na cidade. Isso significa que o homem que tentou ser presidente, governador, prefeito, deputado e vereador não atingiria nem vaga na Câmara Municipal.

Para eleger ao menos um vereador com essa votação o PRTB precisaria alcançar cerca de 115 mil votos com seus candidatos. Em 2008, somou apenas 9.990 votos.

AEROTREM APOSENTADO

Ao todo, já foram 11 candidaturas de Fidelix e nenhuma vitória. Em 1986 e 1990, ele concorreu a deputado federal por PL e PTR, respectivamente. "Não venço as eleições nas urnas, porém, minhas ideias e conceitos vencem", diz em referência à sua marca registrada: o aerotrem.

Segundo ele, o projeto apresentado pela primeira vez na eleição a prefeito

em 1996 foi plagiado pela prefeitura como o monotrilho e pelo governo federal, como trem-bala São Paulo-Rio.

Isso levou Fidelix a substituir seu "carro-chefe" por propostas como a redução da tarifa de ônibus de R$ 3 para R$ 2. O que não mudou foram o bigode caricato e ira contra pesquisas, alvos de pedidos de impugnação na Justiça e rasgadas no programa de TV.

Tantas campanhas perdidas, porém, não empobreceram Fidelix -seu patrimônio cresceu 172% entre 2010 e 2012. Suas candidaturas são financiadas pelo partido, que ele controla há quase 20 anos.

Em 2012, os R$ 251 mil que entraram no caixa da campanha foram repassados pela sigla, que sobrevive do fundo partidário, formado por recursos públicos. Em 2011, 70% dos R$ 2,2 milhões da receita do PRTB vieram do fundo.

'SOLDADO DO PARTIDO'

O monopólio partidário-eleitoral de Fidelix é semelhante ao de outro político nessa eleição. Após três candidaturas a presidente (1998, 2006 e 2010), José Maria Eymael, 72, elevou São Paulo ao status de "nação" para justificar a sétima investida.

"Não era projeto nosso disputar a prefeitura. Mas com a entrada do [José] Serra, essa eleição foi nacionalizada. A democracia cristã não podia se omitir e, como sou soldado do meu partido, decidi sair candidato", explica.

Mesmo sendo o segundo candidato mais rico -perde de Gabriel Chalita (PMDB)-, Eymael não investe dinheiro próprio na campanha. Todos os R$ 70 mil do comitê foram repassados pelo partido, que tem mais de 80% da receita oriunda do fundo partidário.

Ao contrário de Fidelix, Eymael já se elegeu deputado federal duas vezes, pelo PDC. O périplo eleitoral, porém, começou antes, na primeira eleição direta a prefeito pós-regime militar (1964-1985).

'EI, EI EYMAEL'

Nascia ali um fenômeno eleitoral. Não pelo resultado. O democrata cristão foi o nono, com 4.578 votos entre 11 postulantes na eleição vencida por Jânio Quadros (PTB). O sucesso estava no jingle, eternizado nas campanhas.

Sem os versos criados pelo alfaiate José Raimundo de Castro, Eymael passaria despercebido nas ruas. Não à toa, mais do que cabos eleitorais e santinhos, o que não pode faltar em suas andanças pela cidade é a caixa de som carregada num carrinho de mão.

Ainda assim, há eleitores que se interessam mais pelo dono da van de Eymael, Marcelo Oliveira Pires, um dos gêmeos que perderam 200 kg em um reality show da TV Record, em 2009.

A explicação para o ostracismo está no fim do PDC, em 1993. Dois anos depois, Eymael adicionou o "s" de social e criou o PSDC, que comanda desde então. Das três candidaturas que disputou pela sigla, soma 20.146 votos na capital, insuficientes para torná-lo vereador hoje.

Mas o controle da legenda, que rende influência sobre cargos e negociações políticas, compensa. Com dois perfis tão parecidos não é de se espantar quando um eleitor pergunta ao "pai da democracia cristã", como nesta eleição: "Eymael, e o aerotrem?".

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