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Na marca do pênalti

Após perder liderança, tucano recupera fôlego e enfrenta hoje eleição decisiva para sua carreira política

CATIA SEABRA
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO

"Estou derretendo a cada dia nas pesquisas." Era setembro. E José Serra (PSDB) descrevia a aliados sua trajetória na corrida pela Prefeitura de São Paulo.

Às vésperas do desabafo, feito por e-mail, o tucano registrou queda de nove pontos percentuais em dois meses. Perdeu a liderança para Celso Russomanno (PRB), viu seu passaporte para o segundo turno ameaçado por Fernando Haddad (PT) e seu futuro político em xeque.

A iminência de um naufrágio, no entanto, produziu uma situação inusitada no universo tucano: a unidade. Sob risco de ver seus planos políticos afundarem junto com Serra, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (PSD) engoliram suas diferenças e fizeram da eleição na capital um projeto comum.

A mobilização foi iniciada no dia 21 de agosto, quando pesquisa Datafolha apontou, pela primeira vez, liderança de Russomanno. Alarmado, o coordenador de campanha de Serra, Edson Aparecido, procurou Alckmin e Kassab. "Temos que saber que vamos para o céu ou para o inferno. Mas vamos todos juntos", comentou na ocasião.

Depois, em 7 de setembro, foi a vez de Kassab chamar Serra para uma conversa em seu apartamento. O teor do diálogo foi combinado com o marqueteiro da campanha, Luiz González. O prefeito disse que era preciso demonstrar apetite pela disputa.

Já nessa altura, Serra amargava a maior rejeição da sua história política, hoje em 45%. Esse índice é, segundo tucanos, causa de dissabor para o candidato, que se recusa a acreditar no desgaste de sua imagem.

Nas ruas, questionou eleitores sobre esse esgotamento. Na semana passada, ao ser confrontado num shopping, por exemplo, tentou argumentar. Em vão.

"Pena que ela tenha virado as costas. Queria entender o motivo", lamentou Serra ao grupo que o acompanhava.

O tucano chegou a consultar González diversas vezes sobre o índice. A resposta lhe foi dada com base nos relatos colhidos em pesquisas qualitativas: há uma insatisfação com o abandono do cargo de prefeito, em 2006, e, como pano de fundo, uma espécie de fadiga de sua imagem.

Ele não ignorava o deserto que atravessaria ao lançar-se na disputa. Em fevereiro, quando estava no Saara e foi surpreendido por um email em que Serra o informava sobre a decisão de concorrer, González anteviu.

"Será uma longa subida morro acima."

Foi uma montanha russa. A prévia partidária, seu primeiro percalço. Apesar do favoritismo, enfrentou seus pares pelo direito de concorrer. No resultado, um susto: Serra venceu a disputa com apenas 52% dos votos.

Apesar do sinal negativo emitido pelo próprio partido, Serra atingia, em março, o topo nas pesquisas. Ele começou a cair após a campanha ganhar as telas, no noticiário e na propaganda eleitoral.

Aliados enumeram causas para a queda, como a opção por uma agenda minguada no início da campanha. Mas a maioria atribui o sangramento à demora em abordar o assunto que martelava nas ruas: a saída da Prefeitura após 15 meses de mandato.

Conselheiros de Serra chegaram a sugerir que o candidato justificasse, já no primeiro programa de rádio e TV, sua saída e prometesse cumprir o mandato de prefeito até o final, caso fosse eleito.

Mas a campanha optou por outro caminho, sob o argumento de que não entraria na agenda do adversário.

Havia ainda uma resistência pessoal de Serra. Venceu a tese de González, segundo a qual era preciso fortalecer a candidatura antes de expor o tucano ao tema.

Serra só se convenceu da necessidade de enfrentar a polêmica quando caiu nas pesquisas e para dar demonstração de força política, a cúpula da campanha intensificou sua presença nas ruas.

No corpo a corpo o tucano se surpreendeu com a quantidade de perguntas sobre o abandono do cargo. Foi aí que decidiu levar o assunto ao rádio e à TV.

Outra mudança foi a decisão de investir na participação de Alckmin na TV como fiador da promessa de Serra de permanecer no cargo.

Em contrapartida, Kassab -cuja gestão é reprovada por 48% da população de São Paulo- perdeu destaque na campanha e passou a atuar mais nos bastidores.

O esforço estancou a queda das semanas anteriores e deu novo ânimo à campanha do ex-prefeito e ex-governador, que aos 70 anos recobrou o fôlego e recuperou pontos que havia perdido.

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