Morrem duas crianças de grupo indígena

Duas crianças do grupo de índios do sudoeste do Amazonas que está sem dinheiro para retornar às suas aldeias depois das eleições de domingo morreram ontem após quadro de diarreia.

Ao menos mil índios estão acampados em condições precárias em canoas e barracos em Atalaia do Norte (1.036 km de Manaus).

Eles receberam de alguns candidatos somente o combustível para o trajeto entre a terra indígena e a cidade.

Como os políticos foram derrotados nas urnas, sumiram da cidade, e os índios agora estão sem dinheiro para comprar o combustível da volta, segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio).

Para abastecer as 94 embarcações, seriam necessários cerca de R$ 140 mil.

A viagem de barco pelo rio Javari até a terra dos índios, na fronteira com o Peru, leva de oito a dez dias.

Heródoto Jean, coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena, do Ministério da Saúde, disse que as crianças mortas têm menos de dois anos e são das etnias canamari e maiuruna.

Outras 33 crianças estão internadas em tratamento na Casa do Índio. Duas estão hospitalizadas, uma com pneumonia e outra com diarreia grave.

"Os índios vieram para votar e os políticos os jogaram por aí. Todo mundo foi embora", afirmou Jean.

À Folha o coordenador local da Funai, Bruno Pereira, disse que candidatos indígenas e não índios estimularam a viagem do grupo.

O município teve três candidaturas a prefeito e 85 a vereador. Compareceram às urnas 4.899 eleitores.

Dar ou oferecer dinheiro ou vantagem para obter voto é crime previsto no Código Eleitoral, punido com pena de até quatro anos de prisão.

Ontem, o Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas afirmou que a Funai precisa denunciar os políticos para a abertura de investigação.

Pereira, da Funai, disse que não divulgou nomes dos candidatos por temer represálias. "Houve uma campanha suja. A Justiça sabia e virou as costas, quer empurrar com a barriga."