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Mensalão - o julgamento

Relator do mensalão afirma que Dirceu chefiava o esquema

Barbosa indica que vai concluir voto condenando ex-ministro da Casa Civil de Lula por formação de quadrilha

Ministro diz que há várias provas contra petista, que já foi condenado pelo STF por corrupção ativa

Alan Marques/Folhapress
O ministro Joaquim Barbosa folheia parte de seu voto na sessão de ontem do Supremo
O ministro Joaquim Barbosa folheia parte de seu voto na sessão de ontem do Supremo

DE BRASÍLIA

Ao começar ontem o capítulo final do julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), o relator Joaquim Barbosa adiantou, em trechos de seu voto, que irá condenar o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu por formação de quadrilha, afirmando, inclusive, que ele teve uma posição de comando.

"Há nos autos diversos elementos de convicção, harmônicos entre si, de que José Dirceu comandava o núcleo político que, por sua vez, orientava o núcleo partidário, que agia em concurso com o núcleo financeiro", afirmou o ministro, sintetizando o modo de atuação do esquema.

Em outro trecho do voto, Barbosa diz que há fato nos autos "que reforça a atuação de José Dirceu na quadrilha".

Depois de quase três meses de julgamento, 37 sessões e 25 condenações, o Supremo já estabeleceu que houve um grande esquema de desvio de recursos públicos com o objetivo de comprar apoio político no Congresso nos primeiros anos do governo Lula.

Os núcleos apontados ontem no voto de Barbosa são formados pelos 13 réus liderados, segundo o Ministério Público, por José Dirceu (político), o empresário Marcos Valério (publicitário) e Kátia Rabello (financeiro). Esses réus começaram a ser julgados ontem sob acusação de formação de quadrilha.

Dirceu era o ministro mais poderoso do ex-presidente, tendo sido o coordenador da vitoriosa campanha presidencial petista em 2002.

Quando o Ministério Público denunciou o esquema, em 2006, Dirceu foi apontado como o "chefe da quadrilha", o que ele nega.

O petista já foi condenado neste julgamento por corrupção ativa quando o STF entendeu que ele foi o principal responsável pela organização do esquema que distribuiu dinheiro a parlamentares que apoiaram o governo.

Ontem, Barbosa interrompeu seu voto no início da noite, depois de dedicar boa parte do tempo citando argumentos do Ministério Público, além de depoimentos de testemunhas e outros réus.

Nos momentos em que emitiu opinião, o relator disse que a existência do esquema "já passou da mera especulação para a concretude".

VÍNCULOS

Barbosa também citou os encontros de Dirceu com os dirigentes do Banco Rural e BMG, intermediados por Marcos Valério, e ainda destacou a viagem feita pelo empresário a Portugal para reunião na Portugal Telecom.

Lá, segundo depoimentos, eles foram em busca de recursos para o pagamento das dívidas do PT. Para Barbosa, essa viagem "reforça atuação de José Dirceu na quadrilha".

O relator argumentou ainda que vários réus, como Roberto Jefferson e o deputado Valdemar Costa Neto, disseram que os acordos com o PT só eram concretizados após José Dirceu ser ouvido.

"O que esses diálogos e depoimentos mostram é o vínculo de hierarquia e subordinação existente entre o ex-chefe da Casa Civil e os demais integrantes do núcleo político, Delúbio Soares [ex-tesoureiro do PT] e José Genoino [ex-presidente]".

Barbosa também citou trecho da acusação na qual afirma que Valério é um "profissional do crime" que já teria colocado em prática esquema semelhante em 98, na campanha do PSDB ao governo de Minas Gerais, quando Eduardo Azeredo era candidato a reeleição.

O voto do relator será finalizado hoje. Na sequência é a vez do revisor, Ricardo Lewandowski. A expectativa dos ministros é o fim de todo o julgamento na semana que vem. Uma sessão extra foi marcada para a tarde de terça, quando o tribunal deve começar a discutir o tamanho das penas.

(FELIPE SELIGMAN, FLÁVIO FERREIRA, MÁRCIO FALCÃO e NÁDIA GUERLENDA)

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