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Mensalão o julgamento

Banqueira diz encarar punição do mensalão com 'desesperança'

Condenada no julgamento do mensalão, Kátia Rabello afirma que nunca quis 'prejudicar ninguém'

Principal acionista diz que Banco Rural não está à venda e que nunca participou de 'negócio ilegal'

Jefferson Dias - 23.set.2008/Valor
Kátia Rabello, durante entrevista em 2008, numa das últimas vezes em que se deixou fotografar
Kátia Rabello, durante entrevista em 2008, numa das últimas vezes em que se deixou fotografar

MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

A banqueira Kátia Rabello, principal acionista do Banco Rural, perdeu a esperança. Sabe que deve ser presa após o julgamento do mensalão. Em entrevista à Folha, a primeira depois da sua condenação, ela afirma: "Questionei o sentido da vida".

Kátia diz encarar "um castigo como esse" com "sentimento de desesperança".

Ela foi condenada por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e evasão de divisas, o que pode lhe render uma pena de prisão de 12 a 14 anos, segundo estimativas de advogados ouvidos pela Folha.

O Supremo Tribunal Federal concluiu que o Rural usou meios fraudulentos para alimentar o mensalão, com empréstimos de R$ 31 milhões.

Penas superiores a oito anos devem ser cumpridas em regime fechado, segundo a legislação. "Não vai ter pena alternativa", diz o advogado de Kátia, José Carlos Dias. "É um absurdo. A prisão deveria ser reservada para quem oferece riscos à sociedade."

Aos 51 anos, a ex-bailarina que se tornou banqueira após a morte do pai e da irmã diz que sua passagem pelo Rural foi "uma catástrofe atrás da outra". Mas ela diz não se arrepender de nada.

A seguir os principais trechos da entrevista, que Kátia concedeu por e-mail na semana passada.

Folha - O que a sra. imaginou quando soube que poderia passar um tempo na prisão?
Kátia Rabello - Questionei o sentido da minha vida. Quando uma pessoa luta para fazer o que é certo e não prejudicar ninguém, e ao fim se vê diante de um castigo como esse, o sentimento é de desesperança.

Antes de presidir o Rural, a sra. foi bailarina e diretora de um grupo de dança. Algum arrependimento de ter mudado de carreira?
Não. Que coincidência... Ontem, meu filho me fez a mesma pergunta. É claro que minha vida no banco foi duríssima. Uma catástrofe atrás da outra. Por outro lado, vejo como uma missão. O fato de o banco ter superado todas as crises e não ter dado prejuízo a ninguém me dá forças para seguir em frente.

A sra. teve um jantar com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, num hotel em Belo Horizonte, em 2004. Que pedido a sra. fez a ele?
Apenas apresentei a questão do Banco Mercantil de Pernambuco, que já tinha parecer técnico do Banco Central favorável para o levantamento de sua liquidação desde 2002.

Faz sentido a imagem que a procuradoria pinta de Dirceu como chefe de quadrilha?
Não sei, não tenho condições de dizer.

A sra. se arrepende de ter feito empréstimos ao PT?
Eu não participei da concessão desses empréstimos. Como vou me arrepender de uma coisa que eu não fiz?

A sra. se arrepende de alguma coisa?
Penso muito nisso. Tenho minha consciência em paz. Sei que sempre busquei fazer o certo.
Por pior que seja o meu destino, agradeço a Deus por não ter causado prejuízo a ninguém. Essa sempre foi a minha obsessão.

O Rural é conhecido desde o governo de Fernando Collor e o esquema PC, nos anos 90, como um banco que era usado para fazer negócios heterodoxos ou considerados ilegais com políticos. Essa imagem faz algum sentido?
Sempre vi a história do Rural como um banco de crédito que ajudou pequenas e médias empresas a crescer. Minha atuação foi no sentido de melhorar os processos internos e a imagem do banco. Jamais conduzi qualquer negócio ilegal.

Por que o Rural aparece com frequência associado a escândalos, como os casos da Vasp e da Petroforte, nos quais o banco é acusado de ajudar a esconder mais de R$ 500 milhões de controladores de empresas que depois faliram?
O que existe é uma disputa entre credores por bens de massas falidas com as mais diversas alegações. Isso está sendo debatido em juízo e espero que o banco receba o que lhe é devido.

São verdadeiros os rumores, que circulam desde 2005, de que o Rural está à venda e não encontra compradores?
Não. O Banco Rural não está à venda.

Comparado ao que era antes do mensalão, o Rural tem a metade do patrimônio que tinha, um terço dos funcionários e só 28 agências. Dá para um banco sobreviver numa escala tão pequena?
Sim. A relação despesa/receita é a chave. Proporcionalmente, melhorou com investimentos em tecnologia e com um reposicionamento estratégico.
O banco focou no que sabe fazer de melhor: crédito para pequena e média empresa. Nesse novo modelo há espaço para crescer e ser muito rentável.

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