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Mensalão - o julgamento

Dirceu diz merecer pena menor por ter combatido a ditadura

Código Penal fala em punição atenuada se o condenado fez 'relevante ato de solidariedade e compromisso social'

O Supremo Tribunal Federal condenou o ex-ministro da Casa Civil por corrupção ativa e formação de quadrilha

Rodrigo Dionísi/Frame/Folhapress
José Dirceu vota em zona eleitoral de São Paulo no primeiro turno das eleições
José Dirceu vota em zona eleitoral de São Paulo no primeiro turno das eleições

Advogados de José Dirceu apresentaram uma nova defesa ao STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo a redução de sua pena no julgamento do mensalão sob o argumento que o réu tem "relevante valor social".

O petista, ex-ministro da Casa Civil, foi homem forte do primeiro mandato do ex-presidente Lula e, segundo o entendimento da maioria do STF, comandou de dentro do Palácio do Planalto o esquema do mensalão.

O STF também entendeu que, por meio de recursos públicos e empréstimos fraudulentos, uma quadrilha, chefiada por Dirceu, corrompeu parlamentares para garantir apoio ao governo. Resta agora decidir o tempo de condenação do ex-ministro.

Assinado pelos advogados José Luís Oliveira Lima e Rodrigo Dall´Acqua, o texto da defesa, chamado de memorial, traz uma série de testemunhos de pessoas próximas ao ex-ministro, entre eles o de Lula, e afirma que sua participação na luta contra a ditadura contribuiu para a redemocratização do Brasil.

Segundo a defesa, Lula o considera como "um cidadão que lutou pela democratização do Brasil, pagando com o exílio". O memorial diz ainda que "independente de qualquer valoração política ou ideológica, é fato incontestável que José Dirceu atuou por décadas em prol de importantes valores da nossa sociedade".

O documento cita que Dirceu foi um dos fundadores do PT, além de lembrar seu envolvimento estudantil e atuação parlamentar. "José Dirceu apresenta inúmeros fatos de grande valor social que, no momento da fixação da pena, devem ser vistos como uma causa efetivamente importante de grande valor pessoal e específica do agente".

O texto cita que o Código Penal diz que a punição deve ser atenuada quando aquele que foi condenado tenha "voluntariamente, realizado, antes do fato, relevante ato de solidariedade humana e compromisso social".

Não é a primeira vez que réus apelam ao passado. Já ocorreu com o ex-presidente do PT, José Genoino, na análise do mérito do processo.

Ministros disseram que, no mérito, não julgavam os réus por suas histórias, mas pelo atos a eles imputados. O presidente do STF, Carlos Ayres Britto, porém, chegou a antecipar que "a história" dos acusados será levada em conta na fixação de penas.

O memorial foi enviado no dia em que o STF começou a discutir a punição dos 25 condenados com o caso do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. As penas aplicadas a ele por cinco crimes ultrapassam 40 anos.

Após essa sanção ao empresário e com base nos critérios adotados, ministros e advogados avaliavam que Dirceu teria uma pena de 10 a 12 anos. Isso, no entanto, será decidido pelos ministros que discutem acordo sobre quais regras devem ser usadas para estabelecer sanções.

A defesa do petista também pede que o STF use a legislação antiga sobre corrupção ativa (cuja pena variava de 1 a 8 anos) para analisar o caso e fixe a punição mínima.

No fim de 2003, o Código Penal foi alterado e a corrupção passou a ser apenada de 2 a 12 anos. Para os advogados, deve ser considerada a data antiga, pois os atos imputados a Dirceu teriam ocorrido antes da mudança.

No caso de Valério, os ministros decidiram aplicar a lei nova, por entender que em casos de crime continuado, que ocorreu entre o início de 2003 e a metade de 2005, deve-se levar em conta a punição mais grave.

(FELIPE SELIGMAN, MÁRCIO FALCÃO E NÁDIA GUERLENDA)

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