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Cidade Vermelha LEANDRO MACHADO Transtorno em expansão TIRANDO EU, o meu vizinho que tem dois carros e os 268 mil moradores de Guaianases, é bem provável que ninguém se importe muito com o aumento do trânsito na estrada do Lajeado Velho, avenida que faz divisa do bairro com Ferraz de Vasconcelos. O trecho de dois quilômetros era feito em menos de 10 minutos. Agora leva 40 minutos. Há 10 anos, só havia duas grandes atrações na região: uma igreja católica e um cemitério. De modo que trânsito mesmo tinha só na festa junina e no Dia de Finados. Nos últimos tempos, as casas deram lugar a um fast-food, supermercados (2), lojas de departamento (3), distribuidora de cocos (1), igrejas evangélicas (4), academias (3), quiosques de churrasquinho (2). O comércio não é a única explicação: o número de carros cresceu, e o transporte público não acompanhou o ritmo. A Lajeado Velho é apenas um caso do aumento do trânsito nas periferias. É muito difícil saber o quanto ele cresceu, pois nem a CET o mede. Melhorar o transporte público, como prometem todos os candidatos a prefeito desde sempre, é apenas a ação básica esperada. Ou a ponta do rolo de papel higiênico, segundo minha mãe, sempre criativa em inventar metáforas eleitorais. A dúvida que me vem é a seguinte: por que agora que posso comprar um carro em 72 parcelas sem juros e com IPI reduzido, vou deixar a mordomia na garagem para voltar ao sufoco de um ônibus? Quero mais é fazer como os novos-ricos do Anália Franco, que usam Ferraris conversíveis para ir de seus apartamentos com terraços gourmet até a padaria da esquina. Além das promessas, os candidatos poderiam ter explicado como pretendem convencer a população da periferia de que o consumo fácil não é sinônimo de qualidade de vida se, até agora mesmo, o próprio Estado fez de tudo para acreditarmos no contrário. Como crer que, depois de tantas eleições e promessas não cumpridas, a coisa vai finalmente sair do buraco? Em cada cabeça dentro de um trem lotado há o sonho de um carro novo. E esse sonho vem sendo construído aos pouquinhos, cotidianamente, em todos os dias em que o Estado depredou a vida de um passageiro do transporte público. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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